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Violência obstétrica: precisamos falar sobre isso

Casos de violência obstétrica podem chegar até 45% das gestantes atendidas pelo SUS

A violência obstétrica é um sério problema de saúde pública, sendo até mesmo considerada como uma violação dos direitos humanos e que acaba, infelizmente, sendo negligenciada por milhares de profissionais.

Por isso, hoje vou te explicar tudo sobre essa ocorrência, desde como identificar indícios de que estão praticando atitudes que se enquadram nesse cenário até como denunciar os casos:

O que é a violência obstétrica?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, muitas mulheres sofrem tratamento desrespeitoso e abusivo antes, durante e depois do parto em instalações em todo o mundo.

Tal tratamento dado por alguns profissionais de saúde não apenas viola os direitos das mulheres, mas também pode ameaçar seus direitos à vida, saúde, integridade corporal e liberdade.

Tais atos podem ser denominados como violência obstétrica, independentemente de ser uma agressão física, psicológica, emocional, por humilhação, bullying, intimidação, coerção, chantagem ou em qualquer outra vertente que afete a integridade da futura mamãe e/ou do bebê.

Boa parte dos casos de violência obstétrica ocorrem no momento em que uma pessoa em trabalho de parto sofre maus-tratos ou desrespeito aos seus direitos, inclusive sendo forçada a seguir procedimentos contra sua vontade, nas mãos da equipe médica.

Quais são os exemplos mais comuns?

Existem diferentes formas de manifestação de violência obstétrica, entre elas:

Física

Nessa classificação, alguns exemplos incluem exames vaginais sem consentimento, cirurgia cesariana forçada, uso de força física para impedir o nascimento enquanto espera a chegada do médico, agressões sexuais, toques múltiplos por pessoas desconhecidas durante o parto, raspagens pubianas, lavagens intestinais e até mesmo uma contenção física durante o parto.

Psicológica

Aqui entram, por exemplo, intimidações, comentários sexuais e machistas, como “Na hora de fazer foi bom”, e também xingamentos e ordens durante o parto como “Cala a boca”, “Fica quieta”, “Não chora, nem dói”, que não só assustam na hora como também podem causar danos psicológicos e traumas nas gestantes.

Casos de frases racistas ou relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero também são frequentes e precisam ser denunciadas com o mesmo propósito, de evitar estresse pós-traumático.

Privações de acesso

Deixar a gestante sem acesso à água e comida, impedir ou deixar o aleitamento materno mais difícil, afastar mãe e filho por pura conveniência do serviço de saúde vigente, amarrar as pernas e braços da gestante, não deixar ela ter direito a um acompanhante, entre outras dificuldades de acessibilidade podem ser consideradas como um tipo de violência obstétrica.

Mudanças no parto sem consentimento

Alguns procedimentos não são necessários para todos os partos, e alterações no plano de parto feitas sem consentimento da gestante, também se enquadram como violência obstétrica. São eles:

·         Negar acesso à anestesia

·         Aplicar ocitocina sem necessidade, também chamado de “sorinho”

·         Negar a escolha da gestante para a posição do parto

·         Realizar a manobra de Kristeller, na qual o enfermeiro ou médico se sobrepõe acima da paciente para pressionar o abdômen e empurrar o bebê pelo canal vaginal

·         Optar pela episotomia rotineira, que consiste em cortar parte da musculatura entre o ânus e a vagina, em direção às coxas, para aumentar o acesso ao canal vaginal durante o parto

·         Fazer rupturas artificiais da bolsa.

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Rede pública x rede particular: existe diferença?

violência obstétrica
Imagem: Canva

Outro ponto de atenção sobre a violência obstétrica é em relação aos serviços públicos e privados de saúde. Um levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) chamado “Nascer no Brasil” apontou que 45% das mulheres atendidas na hora do parto pelo atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) já sofreram esse tipo de condição.

Por outro lado, o número é menor no sistema privado: cerca de 30% das mulheres atendidas (mas ainda assim é um número alto, principalmente considerando que há serviços e equipes de saúde que cobram bem caro). Ambos os dados são alarmantes, mas também evidenciam que as pacientes que optam pelo SUS estão ainda mais sujeitas a passar por situações de violência obstétrica.

Como proceder se você sentir que foi vítima de violência obstétrica? 

Independentemente de ter sido na rede pública ou privada, é fundamental que gestantes que presenciaram os casos citados ou outros similares, procurem denunciar o ocorrido. Elas podem ser feitas junto à ouvidoria do próprio hospital ou clínica para o Ministério Público ou para a Secretaria de Saúde do seu Município.

Denúncias também podem ser encaminhadas à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Você pode ligar ainda para o número 180, da Central de Atendimento à Mulher ou para o número 136, do Disque Saúde.

Vale destacar também que essas denúncias podem ajudar que outras mulheres não passem por situações similares durante a gestação. E lembre-se: juntas, somos mais fortes!

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De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!

Referências bibliográficas:

The prevention and elimination of disrespect and abuse during facility-based childbirth. WHO, 2015.

Danúbia M. et al. Obstetric violence in the daily routine of care and its characteristics. Rev. Latino-Am. Enfermagem 26, 2018.

Ana Cristina F. et al. Analysis of the Concept of Obstetric Violence: Scoping Review Protocol. J Pers Med. 2022.

Cara T. What Is Obstetric Violence and What if it Happens to You? Lamaze International, 2018.

Nascer no Brasil. Fiocruz, acesso em janeiro de 2023.Violência Obstétrica. Não Se Cale, Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, acesso em janeiro de 2023.

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