Conheça alternativas ao leite de vaca e os testes usados para detectar essa condição
Conforme as crianças crescem, elas passam a experimentar novos alimentos e sabores no dia a dia, incluindo preparos que levam leite de vaca na composição. Porém, é nessa fase inicial da vida que os pais precisam ficar de olho na possibilidade de o filho apresentar uma intolerância à lactose.
Essa condição pode afetar quatro a cada dez brasileiros com algum sintoma que varia de desconforto gastrointestinal até crises de dor de cabeça. E para saber mais sobre o que causa a intolerância à lactose, seus outros sintomas, como identificá-la nos pequenos e, claro, se é possível tratá-la, separei as principais dicas que vão te ajudar. Confira:
Como a criança se torna intolerante à lactose?
Antes de mais nada, é importante explicar como funciona a intolerância à lactose no organismo.
A lactose é o “açúcar” que está no leite e em produtos feitos com leite, como queijos, iogurtes e creme de leite. Quando comemos esses alimentos, nosso corpo precisa quebrar a lactose em pedacinhos menores para poder aproveitá-la como fonte de energia. Quem é responsável por realizar essa “quebra” da lactose é uma enzima de nome muito parecido, a lactase.
Ao longo dos anos, algumas pessoas reduzem ou param de produzir a lactase, e então, a lactose não é digerida e fica no intestino. Lá, as bactérias presentes acabam usando esse açúcar através de um processo chamado fermentação. Isso pode causar desconforto, inchaço, gases, dor na barriga e diarreia. Quando isso acontece, chamamos de intolerância à lactose.
As causas da intolerância à lactose podem dividir esta condição em três categorias:
1- Hipolactasia do “tipo adulto”
Esse tipo de intolerância à lactose é uma doença genética e afeta pessoas com predisposição genética. Em crianças, costuma manifestar os sintomas a partir de três anos.
2- Intolerância congênita à lactose
Esse tipo é o mais raro e o bebê apresenta sintomas ainda recém-nascido. O bebê não consegue ter o aleitamento materno exclusivo e precisa ser alimentos com fórmulas sem lactose.
3- Intolerância secundária à lactose
Essa intolerância ocorre quando há uma diminuição de lactase temporário que pode ser causada por fatores diversos e depois os regulariza os níveis. Ela pode causar diarreia, doença de Crohn, gastroenterite viral e giardíases. Bebês prematuros podem apresentar essa intolerância, já que ainda não são capazes de produzir lactase suficiente.
Muita gente costuma confundir a intolerância com outra condição, a APLV, que é aa alergia à proteína do leite de vaca. Apesar de alguns dos sintomas serem semelhantes, elas são totalmente diferentes, pois a primeira é exclusivamente um problema digestivo, enquanto a alergia envolve diretamente o sistema imunológico.
Ou seja, quando uma criança com intolerância alimentar consome um copo de leite ou algum produto que contenha esse ingrediente, ela pode sentir desconfortos abdominais ou ter uma crise de enxaqueca. Mas não terá um risco de vida elevado e sintomas como anafilaxia e erupções na pele, que são decorrentes da alergia.
Se você quiser saber mais a respeito dos principais alimentos que causam alergia alimentar e seus riscos, tenho um post que explica tudo a respeito, vale a pena dar uma olhada.
Quais são os sintomas de intolerância à lactose?
Você vai perceber que os principais sintomas começam a aparecer entre meia hora e duas horas após o seu filho consumir algum alimento ou bebida que contenha lactose. E eles variam conforme a quantidade ingerida, mas de forma geral, incluem dor de estômago e náusea.
Pode causar também cólicas, inchaço, dores abdominais, flatulência, diarreia, fezes amolecidas e vômito. E como um dos sintomas recorrentes é o aumento dos gases, eles podem provocar um aumento das inflamações no organismo, causando crises de enxaqueca e dores em outros locais do corpo.
Quanto tempo dura a crise de intolerância à lactose?
Em relação à qual é o tempo médio em que a lactose permanece no organismo, é algo que varia em cada caso. Mas em média, ela pode ficar de seis a doze horas até ser evacuada junto a outros açúcares nas fezes. Até que esse período passe, seu filho pode se queixar de alguns dos sintomas citados.
Como saber se meu filho tem intolerância à lactose?
Para entender se uma criança está com sintomas de intolerância à lactose ou se trata de outro tipo de condição, a melhor forma de diagnosticar é procurar por ajuda de um pediatra. Ele pode recomendar algumas opções de testes para fazer com o pequeno.
O primeiro, e mais simples, é cortar alimentos que contenham lactose da rotina alimentar da criança. Tente fazer isso durante duas semanas e experimente reintroduzir, aos poucos, produtos com baixo teor do açúcar do leite nos pratos. Se reparar que houve diferença em sintomas gastrointestinais, pode ser um indicativo da intolerância.
A outra opção é recorrer a exames laboratoriais que comprovem problemas para digerir a substância: .
1- Teste Respiratório de Hidrogênio Expirado
Mede a quantidade de hidrogênio liberado pelos pulmões. Este gás é liberado quando há fermentação da lactose no intestino grosso.
2– Teste Oral de tolerância à lactose
É um exame de sangue que consiste em dosagens seriadas de glicemia após a ingestão de 20 ou 50g de lactose. Durante a realização destas glicemias, espera- se um aumento de cerca de 20mg/dL em relação ao jejum. Se não aumentar, é porque a lactose não foi digerida.
Existe cura para intolerância à lactose?
O tratamento vai depender dos sintomas, da idade e das condições de saúde geral do seu filho. Infelizmente, ainda não dá para reverter o quadro e fazer o corpo voltar a produzir a enzima que digere a lactose naturalmente, mas dá para controlar os sintomas e limitar a alimentação por opções que não levem o açúcar do leite.
Inicialmente, vale a pena testar o quanto o corpo do pequeno é capaz de tolerar a lactose. Experimente a cada semana um pouco de diferentes ingredientes em preparos para entender o que realmente faz mal e o que dá para ser consumido em poucas quantidades. Conhecer o corpo dele permitirá que você consiga planejar melhor a alimentação ao longo da semana.
Existem opções que não levam lactose no mercado, desde leite e queijos até iogurte e leite condensado. Vale a pena investir parte da compra do mês nesses produtos caso queira fazer um bolo ou um sanduíche para a criança.
Por fim, existem também pílulas de lactase vendidas em farmácia e drogarias. Mas, para serem consumidas antes de uma refeição pelo seu filho, vale a pena consultar a disponibilidade e uso com o pediatra antes de fazer isso por conta própria.
E o que acontece se não tratar?
Não detectar a tempo ou mesmo não respeitar os cuidados indicados pelo seu pediatra para cuidar da intolerância à lactose das crianças pode trazer danos irreversíveis à saúde. Os problemas digestivos podem ferir a mucosa intestinal e levar a casos de inflamação mais graves, dores, mau hálito, eczemas e, em situações mais agravadas, até mesmo ao surgimento de asma.
O que comer ao ter intolerância à lactose?
Existem muitas alternativas ao leite de vaca encontrado nos supermercados. Para consumo imediato ou para o preparo de receitas, você pode testar a versão sem lactose ou bebidas vegetais, feitas à base de soja, arroz, amêndoa, aveia, castanhas, entre outros.
O mesmo equivale aos derivados. Existem queijos feitos à base de castanhas e o tofu, bastante usado na culinária oriental e feito com soja, que são opções excelentes de proteína e nutrientes para as crianças. O kefir de água também pode funcionar, como alternativa ao requeijão, coalhada e iogurte.
Quais nutrientes precisam de atenção em crianças intolerantes à lactose?
Uma vez que você precisa limitar o consumo de leite de vaca na alimentação das crianças, alguns nutrientes podem ficar em falta no aporte diário. Veja quais são eles e como incluí-los de outra forma:
Cálcio
Esse mineral é fundamental para o crescimento e reparação dos ossos ao longo da vida. Ele ajuda a prevenir doenças e fortalece o sistema imunológico. Além do leite de vaca, algumas opções de cálcio na dieta incluem vegetais de coloração verde-escura como o espinafre e a couve, além de nabo e brócolis. Peixes como sardinha e salmão, além do tofu e de cereais matinais também são fontes.
Vitamina D
Necessária para a boa absorção do cálcio no organismo, ela também é importante para o crescimento dos ossos e do fortalecimento muscular das crianças. Para fugir do leite de vaca, opte por incluir ovos e fígado, além de priorizar atividades ao ar livre, uma vez que o Sol também é fonte dela. Mas lembre-se: evite os horários de pico e use protetor solar ao sair.
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De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!
Referências bibliográficas:
Lactose Intolerance in Children. Stanford Medicine, acesso em abril de 2023.
Lactose Intolerance in Infants & Children: Parent FAQs. Healthy Children, 2016.
Intolerância à lactose. ANAD, 2020.