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Sobrecarga, autocuidado e redes de apoio: o que revela a saúde mental das mães brasileiras

Um levantamento realizado pelo portal De Mãe em Mãe, com 872 mães brasileiras, revelou um cenário alarmante: mais da metade das participantes classifica sua saúde mental como regular ou ruim, enquanto apenas 5% relatam vivenciar um estado de saúde mental ótimo. Os dados, coletados em janeiro de 2024, reforçam o impacto direto da desigualdade nas tarefas domésticas, da ausência de redes de apoio estruturadas e da dificuldade em acessar momentos de autocuidado.

A centralidade da sobrecarga

Entre os principais achados, destaca-se o papel da divisão desigual do trabalho doméstico. Cerca de 78% das mães entrevistadas afirmam ser a única ou a principal responsável pelas tarefas da casa. Apenas 3% relataram que seus parceiros realizam a maior parte dessas tarefas.

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Essas mães são também as que mais relatam sentimentos de esgotamento diárioexplosões seguidas de culpa e insatisfação com a vida.

Escola como rede de apoio: uma variável crítica para a saúde mental materna

Um dos dados mais expressivos da pesquisa diz respeito ao tempo que os filhos permanecem na escola. A análise revela que mães de crianças que não frequentam a escola ou estudam apenas meio período relatam mais esgotamento, insatisfação e sobrecarga do que aquelas cujos filhos estão matriculados em período integral.

Esgotamento materno

  • 14,3% das mães entrevistadas (125 mulheres) têm filhos que não frequentam a escola. Dessas, 76% relataram sentir-se esgotadas com frequência ou todos os dias.
  • Entre as mães com filhos em meio período escolar69% relataram esgotamento frequente (95 mulheres).
  • No grupo com filhos em período integral, esse percentual cai para 43% (63 mulheres).

Insatisfação com a vida

  • No grupo de mães sem filhos na escola73% relataram sentir-se insatisfeitas com frequência.
  • No grupo meio período63% disseram o mesmo.
  • Entre as mães com filhos em período integral, apenas 38% relataram insatisfação recorrente.

Sobrecarga emocional

  • 459 mães (52,6%) relataram sentir-se sobrecarregadas frequentemente, na maioria dos dias ou todos os dias.
  • A maioria pertence aos grupos cujos filhos não frequentam a escola ou estudam em meio período.
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Esses dados reforçam a compreensão de que a escola, para além do ensino, funciona como uma rede de apoio fundamental à saúde mental materna. Sua ausência ou presença parcial compromete não apenas o bem-estar das crianças, mas também a integridade emocional de quem cuida.

O verdadeiro autocuidado na maternidade

Ao serem convidadas a refletir sobre o que consideram autocuidado, as mães participantes apresentaram respostas que desmontam estereótipos e discursos superficiais. As opções mais citadas foram:

  • Ler um livro (58%)
  • Assistir a filmes ou séries (23%)
  • Tomar um café ou chá em silêncio (7%)

Práticas estéticas, como fazer as unhas ou comprar roupas, apareceram em proporções mínimas (menos de 3%).

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Esses dados indicam que o autocuidado, para a maioria das mães, está vinculado à possibilidade de pausas, silêncio e reconexão consigo mesma. No entanto, para que esse autocuidado se concretize, é indispensável que haja tempo, apoio e compartilhamento das responsabilidades.

Implicações clínicas e sociais

O estudo aponta para uma realidade que precisa ser enfrentada com seriedade por profissionais de saúde, gestores públicos e pela sociedade como um todo. A saúde mental materna não pode ser entendida como uma questão individual, mas sim como reflexo de condições estruturais de suporte, políticas públicas e dinâmicas familiares.

É fundamental que o cuidado com as mães vá além do discurso. Precisamos construir redes que sustentem, políticas que protejam e uma cultura que compreenda que a saúde mental das mulheres que maternam é um indicador essencial de bem-estar coletivo.

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