Uma dúvida que muitos pais têm quando a criança completa 1 ano é sobre entender qual a melhor opção de leite para oferecer após o desmame: composto lácteo ou leite de vaca?
Pensando nisso, resolvi preparar esse conteúdo explicando quais as diferenças entre os diferentes tipos de leite disponíveis no mercado para crianças e qual a real indicação de cada um deles.
O leite na alimentação das crianças
Como expliquei nos posts sobre introdução alimentar e rotina alimentar da criança no primeiro ano de vida, até os 12 meses, o leite sendo materno ou fórmula, precisa estar presente na alimentação do bebê.
Nos primeiros 6 meses de vida, o leite deve ser o único alimento da criança e, após esse período, apesar de outros alimentos serem introduzidos, o leite ainda é responsável por grande parte da ingestão de nutrientes do bebê.
Ao completar 1 ano, a expectativa é que a criança esteja apta para consumir a alimentação da família, sendo essas refeições responsáveis pelo fornecimento dos nutrientes que a criança precisa.
Nessa fase, o leite pode continuar fazendo parte do hábito alimentar em menor quantidade e proporção e essa escolha é facultativa, ou seja, a família pode optar por manter apenas derivados do leite, como queijo e iogurte, e retirar o leite. Essa escolha não prejudicará a alimentação da criança.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde e todas as associações e sociedades de pediatria do mundo, o leite materno é a melhor opção e, sempre que possível, deve ser oferecido até os dois (ou mais) anos, mas nem todas as mulheres têm a oportunidade ou vontade de manter a amamentação até essa idade e nesses casos, vem a dúvida: qual o melhor leite para oferecer após um ano?
Vou explicar a diferença entre eles para ficar mais fácil de entender a recomendação. Vamos lá?
Os tipos de leite
Fórmulas
As fórmulas infantis são um tipo de leite artificial, indicado para a alimentação de bebês e recém-nascidos. O objetivo aqui é complementar o aleitamento materno ou mesmo substituí-lo, quando necessário. Existem vários tipos de fórmulas, como aquelas destinadas para crianças com intolerâncias, ou mesmo segundo uma necessidade de suprimento nutricional.
Apesar de serem um alimento processado, elas se diferem do composto lácteo, porque nesse caso são modificadas para se tornarem o mais próximo possível do leite materno e, assim, oferecer ao bebê os nutrientes necessários. Exatamente por essa composição diferenciada, as fórmulas infantis são indicadas de 0 a 12 meses.
Leite de vaca
É um produto natural, composto por água, gordura, vitaminas, proteínas, enzimas e lactose e tem o cálcio mais biodisponível.
No mercado ele está disponível de diversas formas: em pó, pasteurizado tipo A (saquinho ou garrafinha) ou caixa UHT e a maior diferença entre esses tipos é o método de conservação, sendo o leite em pó e o UHT os mais seguros em termos microbiológicos. Entretanto, é importante ficar de olho no rótulo desses leites, porque algumas marcas podem adicionar aditivos para estabilizar. O ideal é que na lista de ingredientes tenha somente leite na composição.
A introdução do leite de vaca, quando não é possível oferecer o leite materno, é a partir de 1 ano, considerando a prescrição individual. Pensando em saúde pública, e de acordo com a recomendação do Guia Alimentar, a oferta do leite de vaca pode acontecer desde 9 meses.
Composto lácteo
O composto lácteo não pode ser chamado de “leite”, pois tem outros ingredientes em sua composição. É composto de leite (que deve ser no mínimo de 51%), óleos vegetais, prebióticos e suplementos de vitaminas e ômega-3. No supermercado ou farmácia eles ficam perto dos leites em pó e das fórmulas infantis e possuem rótulos muito parecidos, mas, por legislação, o rótulo dos compostos lácteos precisam conter a informação de que é um composto lácteo e não leite em pó.
Além disso, outro ponto importante sobre os compostos lácteos é que a maioria contém maltodextrina na composição, que é um tipo de carboidrato que se comporta como açúcar no corpo e que poderia acabar viciando o paladar das crianças e modificando hábitos muito importantes.
Considerando essa informação, o composto lácteo não poderia ser oferecido para crianças abaixo de 2 anos. Nesse post explico sobre o motivo pelo qual crianças com menos de 2 anos não podem consumir açúcar.
E agora depois dos 12 meses, leite de vaca ou composto lácteo?
Como falei anteriormente, o melhor leite sempre será o materno, mas em casos na qual a criança não é mais amamentada, o ideal é que a alimentação tenha o mínimo possível de alimentos industrializados e produtos com adição de suplementos vitamínicos.
Nesse sentido, crianças que tiveram uma introdução alimentar bem conduzida e tem uma rotina alimentar saudável, variada e que forneça todos os nutrientes nos alimentos que ela consome, o leite será apenas uma parte da alimentação e deverá ser oferecido em horários específicos, e não como substituto das refeições principais.
Nesse cenário, se a criança não tiver alergia ou intolerância, ela pode consumir leite de vaca. Se ela tiver alergia ou intolerância, ela pode consumir leite vegetal se for hábito ou o leite em si não precisa fazer parte da alimentação, mas é necessário adequar o consumo de cálcio através de outras fontes alimentares e então é importante procurar ajuda de um nutricionista.
Mas então por que alguns pediatras indicam composto lácteo? Bom, a Academia Americana de Pediatria não recomenda o uso dos compostos lácteos, devido ao excesso de açúcar. No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Nutrologia e a Sociedade Brasileira de Pediatria, os compostos lácteos, podem ter indicações em condições específicas em que há necessidade de suplementação e adequação alimentar em determinados contextos, como a seletividade, anorexia, picky eating e outras doenças e deficiências nutricionais.
Ou seja, o composto lácteo pode ser utilizado para trazer nutrientes importantes para crianças que não comem bem e, por isso, não consomem esses nutrientes pela alimentação.
Se seu filho come bem, todos os tipos de alimentos e texturas, com variedade e qualidade, não é necessário o uso de composto lácteo, ele pode consumir leite de vaca desde os 12 meses ou apenas os derivados do leite, se preferir.
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De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!
Referências
Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia. Fórmulas e compostos lácteos infantis: em que diferem?, 2021. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22701g-MO_Formulas_e_compostos_Lacteos_Infantis_LayNew.pdf. Acessado em novembro de 2021.
Almeida CAN, Falcão MC, Ribas Filho D, Zorzo RA, Konstantyner T, Ricci R, Gioia N, et al. Consenso da Associação Brasileira de Nutrologia sobre a alimentação láctea da criança com idades entre 1 e 5 anos- IJN. 2020;13(01):2-16.
Lott M, Callahan E, Welker Duffy E, Story M, Daniels S. Healthy Beverage Consumption in Early Childhood: Recommendations from Key National Health and Nutrition Organizations. Consensus Statement. Durham, NC: Healthy Eating Research, 2019. Disponível em: https://healthyeatingresearch.org/wordpress/wp-content/uploads/2019/09/HER-HealthyBeverage-Press-Release.pdf. Acessado em novembro de 2021.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos. Brasília : Ministério da Saúde, 2019.