Cuidar das crianças, lavar a roupa, organizar a casa, preparar o jantar… as tarefas domésticas muitas vezes se acumulam e é preciso ficar com a nossa mente afiada para conseguir organizar tudo em uma única rotina.
Porém, mesmo em lares considerados mais progressistas com divisão de tarefas, a “mãe” ou “mulher” da família é considerada a responsável por organizar e planejar essas tarefas. Isso acaba sendo um fardo invisível, cujo termo se popularizou nos últimos anos: a carga mental.
Hoje vou te explicar tudo a respeito do que é essa carga, como ela afeta a saúde feminina e o que fazer para diminuir suas consequências negativas na nossa rotina:
O que é carga mental?
Também chamado de trabalho cognitivo, a carga mental não diz respeito às tarefas físicas, mas sim ao planejamento e supervisão delas. Por exemplo: você sabe que conforme a semana vai passando, logo mais vai ser necessário lavar o uniforme da escola que seu filho usa.
Esse pensamento se acumula com outras tarefas que precisam ser feitas na sua rotina: aquele lençol que precisa ser estendido no varal, o banheiro que está sujo faz uma semana, a comida que está pra estragar na geladeira após cinco dias e precisa ser descartada, e por aí vai.
Esse concentrado de pensamentos sobre tarefas, mesmo compartilhado com outros membros da família, acabam sobrando pra você. É isso que significa a carga mental, que é antecipar necessidades e saber como preenchê-las, uma atitude que, na maioria dos lares, decai na figura matriarcal.
Como isso afeta as mulheres?
Planejar também é algo que cansa. Se em um trabalho você tem noção do que precisa entregar ou fazer, em casa isso não é diferente. Além de consumir tempo e energia, o grande problema da carga mental é que ela é dada como certa pelas outras pessoas, ou seja, os maridos, cônjuges e filhos esperam que a mulher ou mãe faça isso sem ter o devido reconhecimento.
E veja bem: isso não quer dizer que não existam homens e crianças que não ajudem a gente nas tarefas domésticas, mas sim que a grande maioria acaba sendo delegado a um afazer depois que é ordenado ou que se pede ajuda.
Quer saber o resultado? Estudos que investigaram o peso da carga mental na vida das mulheres revelaram que esses pensamentos estão comprometidos com tensões no bem-estar delas, exaustão, episódio de estresse, senso de culpa, entre outros sintomas.
Identificando a carga mental
Veja a seguir alguns comportamentos familiares que podem induzir ao trabalho cognitivo:
Quando você quiser
Sabe quando o marido fala para a mulher: “avisa se precisar de ajuda”? Esse é um dos exemplos mais clássicos, afinal, ele está jogando a responsabilidade da rotina na companheira, e só se caso dê errado irá pensar no que fazer ou intervir.
Arrependimento tardio
O mesmo vale quando a mulher está fazendo uma tarefa difícil e o marido a vê. Frases como: “por que não me avisou que ia fazer isso, eu teria te ajudado”, ou “deixa que eu faço isso, você devia ter me chamado” são situações que demonstram que o homem, apesar das boas intenções em ajudar, joga esse fardo mental das tarefas na parceira.
De pai pra filho
Esse ciclo pode ser passado entre gerações. Ao cuidar dos filhos, a mãe pode deixá-los mal acostumados com situações que eles poderiam antever quando mais velhos, evitando que sobre tudo para sua genitora. Podem ser ações pequenas como limpar o xixi do cachorro ou arrumar o quarto, por exemplo, sem que a mãe precise pedir.
E tem solução?
Infelizmente, na maioria das famílias a carga mental da mulher é maior, e esse é um problema social, em primeiro lugar. Vai levar anos, décadas e até mesmo séculos para que isso fique realmente equilibrado.
Portanto, precisamos ser realistas e dizer que esse fardo jamais será zerado. Mas ainda assim, algumas intervenções do dia a dia podem sim deixá-lo mais leve:
Abra seu coração
Não tenha medo de falar o que está sentindo para seu parceiro ou seus filhos. Mostre que você não é obrigada a aguentar esse peso diário sozinha, ofereça exemplos concretos de que o planejamento por conta própria não está te fazendo bem e ensine-os a delegar tarefas também.
Explique a diferença
Para os homens, pode ser mais difícil entender que o problema não é fazer as tarefas, mas sim em antecipar o que é preciso para realizá-las. Deixe claro que o problema está em você sequer ter que pedir algo, que ele deveria ser mais proativo sem ser solicitado.
Não se trata de preocupação à toa
Por fim, muitos maridos irão dizer: “você precisa parar de se preocupar demais”. Mas é importante deixar claro que esse não é o ponto. Há coisas em casa que só precisam ser feitas, e se uma mulher está constantemente preocupada com essas tarefas, é porque ela reconhece que as tarefas não serão cumpridas se ela não as fizer.
Reflita sobre o seu papel nessa carga
O quanto você puxa a responsabilidade para si? Nós aprendemos a ser as pessoas que precisam dar conta e controlar tudo, e muitas vezes também fazemos isso sem perceber. Reclamamos da sobrecarga mas continuamos achando que sem nós, as coisas não funcionam.
Então é preciso desapegar um pouco também. Entender o que é, de fato, importante que seja feito “do seu jeito e no seu tempo” e o que não precisa.
Acho importante ressaltar também que a carga mental não é um problema que afeta somente mulheres que se relacionam com homens. É natural de qualquer tipo de relacionamento e ela acontece mesmo nos lares homoafetivos.
Por isso, é importante a gente entender de qual lado estamos nessa balança e qual é a nossa responsabilidade para que ela continue desequilibrada.
Veja também:
3 atitudes que me ajudam a reduzir a carga mental
Saúde mental materna: precisamos falar sobre isso
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De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!
Referências bibliográficas:
Kelly G. What Is The Mental Load? The Invisible Labor Falling On Women’s Shoulders. Mind Body Green, 2022. https://www.mindbodygreen.com/articles/what-is-the-mental-load
Allison D. et al. The Cognitive Dimension of Household Labor. American Sociological Review, 2019. https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0003122419859007