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Anquiloglossia e interferência na amamentação: o que fazer?

Popularmente conhecida como “língua presa”, a anquiloglossia pode colocar em risco a amamentação, a alimentação adequada, a respiração, o crescimento satisfatório dos maxilares e dentes, além de comprometer o desenvolvimento da fala. Hoje vou contar melhor o que é anquiloglossia, e o que fazer para evitar interferência na amamentação.

Anquiloglossia e interferência na amamentação

A anquiloglossia é uma alteração congênita estrutural, em que o frênulo lingual (aquela pele que fica embaixo da língua) é mais curto do que deveria. Existem diversos graus e tem sido apontada como um dos fatores que podem interferir negativamente na amamentação, diminuindo a habilidade do recém-nascido para fazer uma pega e sucção adequadas, o que pode deixar os bebês ansiosos, com crises de choro, pouco ganho de peso, engasgos, mamadas longas com dificuldade para retirar o leite do peito. Nas mães, essa dificuldade na mamada provoca rachaduras no peito, dor para amamentar, depressão e aumento do risco de desmame precoce.

Por conta disso, em 2014 o Ministério da Saúde criou a Lei 13.002, que torna obrigatória a avaliação do frênulo lingual em bebês em todas as maternidades e hospitais do país. Aliás, apesar da concordância mundial da necessidade da intervenção precoce, o Brasil foi o primeiro país do mundo a ter essa lei instituída, mas ela foi e ainda é muito questionada pelas associações e sociedades de pediatria e odontopediatria, que alegam não terem sido consultadas para a elaboração do documento. 

O “teste da linguinha” é realizado ainda nas primeiras 48 horas de vida do bebê, através de uma avaliação da boca do bebê, que deve considerar a espessura e o local do frênulo lingual, formato da ponta, elevação e posicionamento de língua e também posicionamento dos lábios durante o repouso. Através dessa avaliação, ainda na maternidade, pode ser possível diagnosticar a necessidade de cirurgia ou, se houver dúvidas, a necessidade de uma nova avaliação ao completar um mês de vida. 

É importante ressaltar que o exame deveria ser realizado por uma equipe interdisciplinar, visto que no Brasil não existe um curso de graduação que, a princípio, capacite um único profissional a fazer avaliação das estruturas e funções linguais (fonoaudiólogo) e realizar o procedimento cirúrgico de frenectomia (médico ou dentista). Por isso, pode acontecer de a anquiloglossia não ser diagnosticada na maternidade, visto que essa avaliação é realizada por um único profissional.

O que fazer em caso de suspeita?

Quando o bebê apresentar freio de língua curto ou houver suspeita, ele deve passar por uma avaliação cuidadosa feita por um profissional com experiência neste problema. Esse especialista analisará se esse freio está causando dificuldades para a amamentação e poderá indicar alguns exercícios para melhorar a técnica da mamada, mas na maioria dos casos a cirurgia é a opção mais recomendada.

Há três três tipos de cirurgias que podem ser realizadas para resolução da anquiloglossia: retirada do frênulo (frenectomia), reposição cirúrgica (frenuloplastia) ou corte e divisão (frenotomia). Também chamado de “pique de língua”, é esse último que, normalmente, é realizado nos bebês com língua presa, um procedimento rápido e com anestesia local. Estes são procedimentos cirúrgicos que só devem ser realizados com a anuência do pediatra da criança, após avaliação cuidadosa por uma equipe interdisciplinar.

A criança consegue mamar logo após o procedimento. Pode acontecer uma pequena dificuldade inicial, passageira, que não impede a amamentação. No entanto, apesar da simplicidade do ato, é recomendável o acompanhamento especializado após a cirurgia, até que a amamentação siga sem problemas.

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Ao contrário do que algumas pessoas pensam, amamentar ou mamar não são ações instintivas, ou seja, a mãe e o bebê não nascem sabendo, eles aprendem juntos. É normal que haja dificuldade no começo e, para algumas mães, pode ser doloroso inicialmente, porque os mamilos são muito sensíveis. Mas a dor não deve ser insuportável e nem durar muito tempo, é importante que você busque ajuda quando não estiver confortável. 

De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!

Referências

Parri Ferrandis FJ. Ankyloglossia in infants: surgical aspects. Anquiloglosia en el lactante. Aspectos quirúrgicos. Cir Pediatr. 2021;34(2):59-62. Published 2021 Apr 1.

Campanha SMA, Martinelli RLC, Palhares DB. Association between ankyloglossia and breastfeeding. Codas. 2019;31(1):e20170264. Published 2019 Feb 25. doi:10.1590/2317-1782/20182018264

Francis DO, Krishnaswami S, McPheeters M. Treatment of ankyloglossia and breastfeeding outcomes: a systematic review. Pediatrics. 2015;135(6):e1458-e1466. doi:10.1542/peds.2015-0658

Brasil. Ministério da Saúde. NOTA TÉCNICA Nº 35/2018. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/anquiloglossia_ministerio_saude_26_11_2018_nota_tecnica_35.pdf. Acesso em 24/09/2021.  

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