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Sucção não-nutritiva: o que é?

A sucção não-nutritiva é o ato de sugar sem receber nutrientes, por exemplo, quando o bebê chupa chupeta ou dedo. É um recurso que os pequenos possuem para se acalmarem e, de fato, é muito efetivo. Tanto que a maioria das mães já compram algumas chupetas antes mesmo do bebê nascer. 

Entretanto, conforme já expliquei aqui, o uso de bicos artificiais, como chupeta, pode causar confusão de bicos e levar ao desmame precoce do bebê, e, portanto, não é recomendado. 

Da mesma forma, o hábito de chupar dedo pode ser deletério e causar alterações na estrutura óssea da boca, além de alterações na musculatura orofacial, e também pode gerar problemas para crianças no futuro. 

Mas, como também já expliquei aqui, muito por conta da fase oral do bebê, o ato de sucção não-nutritiva traz certo conforto e prazer para o bebê. E se faz parte de uma fase do desenvolvimento dele, será mesmo que não há nenhuma vantagem? Se não, há alguma forma de suprir essa necessidade emocional do bebê de outra maneira que não com a chupeta ou o dedo? 

Confira o texto abaixo para saber as respostas! 

Existe algum benefício na sucção não-nutritiva? 

sucção não-nutritiva
Imagem: Canva

A sucção não-nutritiva é uma necessidade apresentada pelo bebê desde o seu nascimento que proporciona à criança prazer especial, sensação de bem-estar e proteção.

O ato de sugar faz os bebês lembrarem da sensação de proteção que recebem ao serem amamentados, afinal de contas, eles ficam envolvidos pelos braços e bem próximos ao corpo da mãe enquanto se alimentam. Aliás, a ocitocina é liberada durante esse ato, o famoso hormônio do carinho, amor e aconchego.

Portanto, ao sugar algum objeto, o cérebro lembra que esse movimento é benéfico e libera os hormônios que tranquilizam o corpo do bebê. É um recurso efetivo para promover o bem-estar dos pequenos, além da sensação de proteção que isso gera.

A sucção não-nutritiva ainda estimula a liberação da endorfina, o neutro transmissor do bem-estar. É uma maneira de tranquilizá-los, porque os bebês sentem quando a mãe volta ao trabalho, pois eles sentem falta do peito e do momento deitado no colo da mãe. Com uma chupeta essa sensação é suprida.

Além disso, um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros demonstrou que a sucção não-nutritiva é benéfica em recém-nascidos pré-termo (prematuros) que possuem peso muito baixo ao nascer, principalmente, no período que estão no hospital. Ao realizar os estudos, verificaram que a estimulação da sucção não-nutritiva aliada à estimulação oral, resultou na melhora da habilidade de sugar, o que refletiu na organização neurocomportamental. 

Isso porque, nesses casos, a criança recebe o estímulo oral no intervalo entre as amamentações com chupetas, os próprios dedos ou as enfermeiras estimulam a região através de exercícios onde, muitas vezes, elas ensinam a mamãe e pedem para que repita os movimentos em períodos determinados.

Esses três atos ensinam o bebê a controlar os lábios, língua, bochecha e a respiração, consequentemente, eles conseguem sugar mais forte e pegar o peito com firmeza.

Diante desta constatação, os autores deste estudo afirmam  que a sucção não-nutritiva, associada à estimulação oral, pode contribuir para a melhoria das taxas de amamentação nesses bebês prematuros.

Resumindo, o corpo dos pequenos sente que esse ato é bom, porque é uma memória positiva que o cérebro registra. Por isso, muitas crianças não largam a chupeta durante o berçário ou os primeiros meses na escolinha. É uma forma de resgatar a sensação de proteção que sentem ao lado da mãe.

Entretanto, como todos os outros excessos, o ato de sugar sem nutrientes também carrega algumas desvantagens para o bebê, veja a seguir.

Qual a desvantagem da sucção não-nutritiva?

sucção não-nutritiva
Imagem: Canva

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, as crianças que usam chupeta mamam por menos tempo. Isso pode acontecer porque sugar o peito é muito diferente de sugar uma chupeta. 

Para mamar no peito o bebê utiliza músculos diferentes daqueles necessários para sugar a chupeta. Um bebê que mama no peito e usa chupeta pode ter dificuldade de aprender as duas maneiras de sugar e ficar confuso. 

Quando a “confusão de bicos” acontece, o bebê vai para o peito e chora, fica agitado, se inclina para trás, se afasta do peito empurrando-o, pega e solta o peito toda hora, sem conseguir mamar com tranquilidade. 

Isso porque o bebê pode estar tendo dificuldade para retirar o leite do peito e, além disso, por estar confuso, pode pegar o peito de uma forma que pode machucar os mamilos da mãe, provocando dor ao amamentar. O bebê passa então a mamar no peito cada vez menos tempo e menos vezes ao dia.

Além disso, o bom desenvolvimento da boca e da dentição depende do exercício que a criança faz para sugar o peito. Como sugar a chupeta utiliza músculos diferentes daqueles utilizados para mamar no peito, a falta de atividade dos músculos utilizados para mamar no peito pode levar a problemas na mastigação, na fala, no alinhamento dos dentes e na respiração, entre outros. 

Outra desvantagem: a otite, a famosa “dor de ouvido”, é mais comum em crianças que usam chupeta. Isso acontece porque a sucção da chupeta faz com que o músculo responsável pelo funcionamento da tuba auditiva (canal de comunicação entre o ouvido e a garganta) não seja estimulado de forma adequada, favorecendo o acúmulo de secreção nos ouvidos e, consequentemente, as otites. Otites frequentes podem afetar o desenvolvimento da criança.

Entretanto, muitos bebês que não recebem chupeta, acabam satisfazendo sua necessidade de sucção não-nutritiva, chupando o dedo. O hábito de chupar o dedo pode ser ainda mais prejudicial para o desenvolvimento da musculatura orofacial e formação dos dentes, do que a chupeta, por isso, estimular essa prática também não é recomendada. 

Mas então o que fazer? 

sucção não-nutritiva
Imagem: Canva

Nos casos em que a sucção não-nutritiva está sendo utilizada pela sensação de bem-estar e proteção e para acalmar o bebê, a necessidade de sucção não- nutritiva pode ser suprida com o afeto materno ou familiar, cuidadores e demais pessoas envolvidas nos cuidados com o bebê.

Após conhecer os benefícios e os malefícios do uso de chupeta, é importante que os pais/cuidadores façam uma reflexão sobre quando e como o seu bebê precisa ser acalmado. 

Como os bebês não falam, eles se comunicam por meio de resmungos, balbucios, choros e gritos. No início, entender essa linguagem do bebê pode ser uma tarefa complicada para os pais, mas, com o passar do tempo, muitos pais sentem-se confiantes em identificar o que o bebê está tentando comunicar através do choro: “estou com sono”, “estou com fome”, “estou com as fraldas sujas”, “quero carinho”, “estou com frio”, “quero colo”, “estou cansado, mas não consigo dormir”, “estou com dor”, “estou com febre”.

Confira: Como interpretar o choro do bebê?

É importante que os cuidadores sejam capazes de suportar a angústia que causa o choro da criança e de dar um tempo para compreender/descobrir qual o incômodo e/ou a necessidade da criança que causou o choro. 

No entanto, é comum oferecer chupeta ao bebê tão logo ele comece a resmungar ou na presença de algum fator que entendemos como desconfortável a ele. É comum, também, oferecer chupeta às crianças sem nenhum motivo. 

É importante lembrar que a chupeta pode fazer com que a criança fique quieta, o que não significa que sua necessidade tenha sido atendida. Ela acaba “se conformando” com o prazer que lhe é oferecido, ainda que temporário. Por isso, é importante tentar entender e decifrar o significado dos choros do bebê.

Se ainda assim a opção for por oferecer chupeta à criança, de acordo com a Associação Brasileira de Odontopediatria e o Ministério da Saúde, a idade limite para remoção do uso da chupeta seria em torno dos 3 anos de idade, mas que o ideal seria a retirada gradativa desse hábito até os 2 anos. 

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, sua introdução deve ocorrer após a amamentação estar estabelecida, ou seja, com o bebê mamando bem, ganhando peso por mais de duas semanas e a mãe sem fissuras ou dores no momento de amamentar. 

Para aqueles que optarem por oferecer a chupeta, uma opção é restringir o seu uso em momentos críticos e, uma vez estabelecido o hábito de usar a chupeta, procurar suporte profissional para a retirada, se este for o desejo. 

Por fim, é importante ressaltar que o uso de chupeta por crianças que já adquiriram a fala, muitas vezes em idades avançadas como 7, 8 e até mesmo 10 anos, é um sinal de alerta. Os pais precisam refletir sobre o que se passa emocionalmente com elas e qual a função psíquica da chupeta na vida dessas crianças. Cientes do motivo, poderão oferecer a elas uma conduta afetiva que possa ajudá-las na elaboração do problema e, assim, a chupeta poderá ser abandonada.

De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!

Referências 

Sociedade Brasileira de Pediatria. Uso de chupetas: prós e contras. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/cuidados-com-o-bebe/uso-de-chupeta-os-pros-e-os-contras/. Acesso em: maio de 2022. 

Pinelli J, Symington A. Non-nutritive sucking for promoting physiologic stability and nutrition in preterm infants. Cochrane Database Syst Rev. 2005;19:CD001071.

Pimenta HP, et al. Efeitos da sucção não-nutritiva e da estimulação oral nas taxas de amamentação em recém-nascidos pré-termo de muito baixo peso ao nascer: um ensaio clínico randomizado. J. Pediatr. (Rio J.) 84 (5). Out 2008. https://doi.org/10.2223/JPED.1839

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