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Descubra se seu filho é respirador bucal

O Gustavo, meu filho mais velho, é respirador bucal e faz acompanhamento com a fonoaudióloga há anos para tratar essa situação. Sempre que eu posto sobre isso no meu Instagram, muita muita gente me escreve com dúvidas.

Fiquei até surpresa em notar que tão pouca gente sabe que respirar pela boca, além de não ser natural, traz diversos prejuízos à saúde no geral. Então achei que valia a pena trazer para cá esse conteúdo mais completo e com todos os detalhes sobre respiração bucal e suas consequências.

O que é respiração bucal? 

Pelo processo natural (nasal), o ar entra pelas narinas, onde é filtrado, aquecido e umidificado. Desse modo, chega em boas condições aos pulmões. Além disso, a respiração nasal faz com que os pulmões se mantenham mais dilatados. Desse modo, a respiração flui, os alvéolos se inflam corretamente com ar inspirado e se esvaziam na expiração, assim, o processo se completa.

A respiração pela boca acontece quando – por alguma razão – há uma obstrução ou desvio que dificulta ou impede a respiração pelo nariz e, muitas vezes, ela começa ainda na primeira infância sem que os pais percebam e busquem ajuda para tratar essa disfunção. 

Consequências de ser respirador bucal 

respirador bucal
Imagem: Canva

Quando acontece na infância, a respiração pode causar alterações na face e na arcada dentária, apneia do sono (e má qualidade do sono), maior predisposição a infecções respiratórias, além de comprometimentos de ordem postural, funcional, de fala, de deglutição e até de aprendizagem! 

Alteração no crescimento/ desenvolvimento da face

A respiração bucal provoca alterações adaptativas  no posicionamento da língua e no desenvolvimento do palato ( céu da boca ) e, assim, prejudica o crescimento da cavidade nasal e dos seios paranasais, ocasionando mais obstrução nasal ainda e maior predisposição a sinusites.

Cansaço e dificuldade de manter a atenção

A falta de filtragem do ar – feita pelo nariz – prejudica a qualidade do oxigênio inalado e causa obstrução respiratória durante o sono ( apnéias e hipopnéias). Desse modo, há uma redução nas horas dormidas e a qualidade do sono fica comprometida, interferindo nas atividades do dia a dia, principalmente as que requerem concentração. 

Inclusive, falta de atenção e concentração são característica também de crianças com TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) e, nesse sentido, já existem estudos com objetivo de ampliar os conhecimentos sobre o que é a “Síndrome do Respirador Bucal” e as consequências do hábito na fase escolar, principalmente na leitura e escrita, exatamente para diferenciar o diagnóstico de respiração bucal e TDAH, que podem se confundir. 

Alterações na dentição 

O indivíduo que respira pela boca, muda a postura da língua, que tende a abaixar e se colocar no assoalho da cavidade oral. Não há força para a postura do lábio, com isso, a pressão da musculatura em volta da boca tende a apertar as arcadas dentárias, diminuindo seu perímetro, repercutindo em falta de espaço para a boa relação dentária.

Problemas de coluna causados pela má postura

Pessoas com respiração bucal tendem a projetar a cabeça para frente, para facilitar a passagem do ar pela traqueia. Com isso, acabam desenvolvendo problemas como cifose cervical e outras alterações na coluna e nos ombros.

Como estas alterações são de instalação progressiva, elas nem sempre são percebidas pelo paciente ou familiares. O ideal é diagnosticar o respirador bucal o mais precocemente possível, tarefa que cabe ao pediatra e ao odontopediatra suspeitarem que o quadro está se instalando.

Como saber se meu filho é respirador bucal?

síndrome do respirador bucal
Imagem: Canva

Dentre as referências para perceber um respirador bucal, destacam-se: lábios afastados (quando sorri expõe a gengiva); engole ar ocasionando uma “barriguinha”, come e respira pela boca, mastiga pouco (se alimenta mal) e não gosta de sólidos; face mais estreita, alongada, céu da boca fica alto e pode haver vários tipos de má oclusão dos dentes; acumula saliva, cuspindo ao falar ou babando à noite; pode trocar alguns fonemas como “te”, “de” e outros.

O segundo passo é consultar um otorrinolaringologista, que vai determinar se é o nariz que está tampado ou se a obstrução ocorre na garganta.

Quando o obstáculo à passagem do ar é no nariz, as causas mais frequentes são adenóide, rinite e desvio do septo nasal. A vegetação adenóide, também conhecida popularmente como carne esponjosa da criança, é o aumento exagerado de uma amígdala que existe em todas as crianças e que fica logo atrás da cavidade nasal, causando uma respiração bucal e ruidosa: o tratamento é cirúrgico.

Dentre as rinites crônicas, a mais freqüente causadora de obstrução nasal é a rinite alérgica.

O desvio de septo nasal, estrutura que divide o nariz em cavidade nasal direita e esquerda, pode ser de origem traumática (pancada, bolada) ou por crescer torto. Desvios leves são comuns, principalmente na raça branca, mas desvios severos ou em áreas estreitas do nariz, podem causar obstrução nasal e respiração bucal, necessitando de tratamento cirúrgico – a septoplastia.

Ao nível da garganta, a causa mais comum de obstáculo à passagem do ar, principalmente em crianças, é o aumento irredutível das amígdalas palatinas, que às vezes chegam a se tocar no meio da garganta. Estes pacientes, além de respirarem pela boca, costumam roncar quando dormem e podem apresentar até apnéia – parada da respiração por 10 a 30 segundos. O tratamento é cirúrgico.

Pode acontecer, ainda, de o exame otorrinolaringológico não acusar nenhum obstáculo à passagem do ar e se o paciente é solicitado a respirar voluntariamente pelo nariz, ele o fará, porém logo que se distrair voltará a respirar pela boca. Esses casos são chamados de respirador bucal por hábito. 

Um exemplo é um paciente que teve um desvio do septo prejudicando a respiração, operou, ficou livre, mas se acostumou a respirar pela boca, então precisa reaprender a respirar pelo nariz.

E como tratar? 

tratamento para respiração bucal
Imagem: Canva

Como vimos, a respiração bucal pode acontecer por diferentes causas. Neste sentido, o primeiro passo é tratar a causa e tirar do caminho o que quer que esteja obstruindo a passagem de ar.

Feito isso, é necessário buscar acompanhamento multiprofissional para tratar as consequências causadas pela respiração bucal. 

Os principais são fonoaudiólogo, que vai cuidar de toda a parte de flacidez na língua e na boca, alterações na fala e na respiração; odontopediatra, que vai avaliar as consequências na arcada dentária e bucal e corrigir, podendo ser necessário o uso de aparelhos ortodônticos, nutricionista para avaliar se há seletividade alimentar causada pela dificuldade de mastigação e ajudar nessa reintrodução de alimentos sólidos, além do acompanhamento contínuo com pediatra e otorrino para continuar tratando as causas. 

Se houver dificuldade no aprendizado, pode ser importante também acompanhamento com psicopedagogo e psicólogo. 

Como vimos, a respiração bucal, principalmente se acontece na infância, pode trazer prejuízos importantes para o desenvolvimento da criança, então o diagnóstico e acompanhamento devem ser realizados o quanto antes. 

De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!

Referências

MARQUES, Patrícia de Souza. TDAH Ou Síndrome do Respirador Bucal?. Constr. psicopedag. [online]. 2019, vol.27, n.28, pp. 19-25 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-69542019000100003&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1415-6954.

Coldebella, C.R.; Guimarães, M.S.; Josgrilberg, E.B.; Zuanon, A.C.C. Tratamento multidisciplinar do respirador bucal. Rev. odontol. UNESP, vol.34, nEspecial, p.0, 2005.

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