Veja o que fazer quando perceber que uma criança está sendo abusada
No nosso país, existe uma triste realidade quando o assunto é abuso infantil: segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, são registrados 130 casos diários de abuso sexual em crianças e adolescentes.
E muitas vezes, sequer existem denúncias apontando essa questão para milhares de brasileiros. Para piorar, o número é ainda maior quando levado em conta outros tipos de abuso, como o psicológico, emocional e de violência familiar, por exemplo.
Por isso, hoje eu vou te mostrar que precisamos nos unir na luta contra essa situação, ensinando como você pode identificar os sinais de que uma criança está sendo violentada e o que fazer após descobrir:
Quais são os tipos de abuso infantil?
Quando se fala a palavra abuso, para muita gente vem na cabeça a questão sexual, mas existem diversos tipos e que, em boa parte, nem sempre são tão óbvios ou visíveis de se identificar. Conheça-os a seguir:
Abuso físico
É quando uma criança é ferida propositalmente ou colocada em risco de vida por uma pessoa. Os sinais mais comuns incluem machucados, sangramentos, olho roxo e outras sequelas no corpo do pequeno.
Abuso sexual
Está relacionado a qualquer tipo de atividade sexual com uma criança, incluindo contato de genitálias, toque sexual intencional, contato oral ou a relação propriamente dita. Também pode incluir a exposição de pornografia, observar ou filmar uma criança com intuito sexual, assédio, prostituição infantil e tráfico sexual.
Abuso emocional
Significa ferir a autoestima ou o bem-estar emocional de uma criança. Inclui agressão verbal e emocional, como depreciar ou repreender continuamente uma criança, bem como isolar, ignorar ou rejeitar a sua presença.
Abuso médico
O abuso infantil médico ocorre quando alguém dá informações falsas sobre uma doença em uma criança que requer atenção médica, colocando a criança em risco de lesões e cuidados médicos desnecessários.
Negligência
Por fim, esse tipo de abuso consiste em uma falha ao fornecer alimentação adequada, roupas, abrigo, condições de vida, carinho, supervisão, educação ou atendimento odontológico ou médico para crianças.
Quem são os abusadores?
Esqueça aquela imagem de um homem mau como o possível abusador que você está tentando identificar. A pessoa geralmente irá fazer parte do ciclo social da família, ser gentil com todos e conquistar a confiança dos pequenos enquanto passam despercebidas pelos adultos.
Para que esse contato seja possível, o abusador pode:
Ter uma profissão que interaja com as crianças
Fique de olho na relação da criança com professores, babás, técnicos de atividades esportivas, instrutores, médicos, entre outros profissionais que podem passar um tempo a sós com os pequenos.
Ser brincalhão
Toda família tem tios, primos ou conhecidos brincalhões, e não há problema nisso. Porém, quando o que era para ser uma simples brincadeira passa a ter outras intenções, e inclui guardar segredos ou fazer promessas, é preciso fazer com que a criança revele tudo sem ter medo.
Ter sofrido abuso ou ser dependente
Pessoas que se tornam abusadoras podem ter um histórico de abuso na própria infância e levam isso adiante. Podem também terem problemas com bebidas alcoólicas, drogas e comportamentos depressivos, por isso, é mais um indício para ficar de olho ao se aproximarem das crianças.
Outros sinais
Observe comportamentos de adultos próximos como guardar memórias, roupas, brinquedos ou livros da criança sem um motivo aparente, não se sentir culpado por atos equivocados, objetificar a criança ao chamá-la por um apelido como “boneca” ou um animal fofinho, por exemplo.
Mas tenha cuidado
Acho importante também dizer que um abusador não depende necessariamente de estar ligado com a classe social ou gênero, ou seja, pode ser um homem ou uma mulher, rico ou pobre, com ensino superior ou sem ter completado o ensino fundamental, entre outros fatores.
Quais sinais a criança pode apresentar?
A lista de indícios pode incluir:
· Mudanças de comportamento como uma agressão, um momento de raiva, hostilidade ou hiperatividade
· Dificuldades no desempenho escolar
· Afastamento de amigos ou de atividades habituais
· Depressão, ansiedade ou medos incomuns
· Problemas de sono e pesadelos
· Falta de apetite ou de sede, e em casos de negligência, desnutrição
· Lesões inexplicáveis, como hematomas, ossos quebrados (fraturas) ou queimaduras
· Sinais e sintomas de abuso sexual, como medo das pessoas, feridas nas regiões íntimas e tentativas de se limpar constantemente
· Comportamento ou conhecimento sexual inadequado para a idade da criança
· Busca por afeto desesperadamente
· Má higiene
· Automutilação ou tentativa de suicídio
O que fazer após descobrir?
Uma vez que existem suspeitas ou que você confirmou que está lidando um caso de abuso infantil no seu ciclo social, aqui vão algumas ações que podem ser tomadas:
Mantenha a calma
A melhor maneira de incentivar uma criança a contar tudo pelo que ela está passando é demonstrar calma, segurança e apoio incondicional. Se você está tendo problemas para encontrar as palavras, deixe suas ações falarem por você. Tente tranquilizar a criança de que ela não fez nada de errado.
Evite a negação
Uma reação comum a notícias tão desagradáveis e chocantes quanto o abuso infantil é a negação. No entanto, se você mostrar isso a uma criança, choque ou repulsa com o que ela está dizendo, ela pode ter medo de continuar e se fechar. Por mais difícil que seja, permaneça o mais reconfortante possível.
Busque ajuda
A segurança vem em primeiro lugar. Se você sentir que sua segurança ou a da criança estaria ameaçada se você tentasse intervir, deixe isso para profissionais como assistentes sociais, conselho tutelar, pedagogos, psicólogos, entre outros. Você pode fornecer mais suporte posteriormente.
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Denuncie o abuso
No Brasil, o número para denunciar casos de abuso infantil é o 100. O abuso infantil e a negligência não são meramente um assunto familiar, e as consequências de ficar calado podem ser devastadoras para a criança.
Não tenha medo
Também é importante dizer que uma denúncia de abuso infantil não significa que a criança seja automaticamente removida de casa, a menos que esteja claramente em perigo. Os pais podem receber apoio, como aulas ou aconselhamento para controle da raiva, o que pode melhorar a qualidade de vida da família.
Vale ainda lembrar que a denúncia pode ser anônima. Na maioria dos lugares, você não precisa fornecer seu nome ao denunciar abuso infantil. Por isso, se você tem um pressentimento de que algo está errado, é melhor prevenir do que remediar. Mesmo que você não consiga ver o quadro completo, outras pessoas também podem ter notado os sinais, e um padrão pode ajudar a identificar o abuso infantil.
E como falar com as crianças a respeito?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), algumas pequenas atitudes podem fazer com que o diálogo entre pais e filhos a respeito de abuso infantil seja uma forma de deixar a criança mais atenta a esse tipo de situação.
Conte uma história
Pode ser em forma de fábula, conto, música, desenho… da forma que você se sentir mais confortável! Tente fazer com que a criança entenda, de maneira lúdica e sem sustos, que ela precisa entender o que é abuso sexual e como falar sobre esse tema com você caso ela passe por uma situação parecida..
Cada parte, um nome
Não tenha medo ou tabu de ensinar o nome correto das partes íntimas para as crianças. É importante tratar o corpo como algo real para que seu filho entenda do que precisa se defender.
Limites impostos
É essencial deixar claro para seu filho que ninguém deve pedir para tocar nas partes íntimas dele e vice versa. A SBP dá como exemplo que apenas o papai e a mamãe podem ver esses órgãos do filho na hora do banho, mas que nenhum deles faz cócegas ou carícias nessa hora, para que ele entenda a diferença.
E se os pais costumam brincar de fazer cócegas na barriga ou no pé em outros momentos por diversão e a criança pedir para parar, é um bom momento para cessar, ensinar o que é consentimento e expor esse limite.
Evite segredos
Por fim, explique para o pequeno que não é legal guardar segredos, e que qualquer tipo de desconforto precisa ser dito. Você pode criar um código com ele, por exemplo, para denunciar esse tipo de abuso. Ou então, voltar ao lado da canção, do desenho ou da fábula para incentivá-lo a se comunicar.
No meu Instagram @gibelarmino_ você confere mais dicas para a segurança e bem-estar dos pequenos.
De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!
Referências bibliográficas:
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, acesso em novembro de 2022.https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/
Child Abuse and Neglect. HelpGuide, 2022.https://www.helpguide.org/articles/abuse/child-abuse-and-neglect.htm
Child abuse. Mayo Clinic, 2022.https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/child-abuse/symptoms-causes/syc-20370864
Como falar de Abuso sexual com crianças e adolescentes? SBP, acesso em novembro de 2022. https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/adolescencia/como-falar-de-abuso-sexual-com-criancas-e-adolescentes-copia-1/