De Mãe em Mãe

Primeiros 1000 dias do bebê: por que são importantes?

Você já ouviu falar nos 1000 dias do bebê? Esse termo se refere ao período que corresponde às 40 semanas de gestação (270 dias) somados aos dois primeiros anos de vida (730 dias).

Foi tema de uma série de estudos publicados, a partir de 2008, por uma das maiores revistas de artigos científicos da área da saúde, Lancet. Desde então, organizações de todo o mundo têm chamado a atenção para o quanto aspectos como nutrição, estimulação e proteção adequadas, especialmente nesta fase, são essenciais para que a criança atinja todo o seu potencial de crescimento e se torne um adulto saudável.  

Qual a importância dos primeiros 1000 dias do bebê?

É nesse período que cada célula do corpo está sendo formada e programada, por isso é considerado um intervalo de ouro, que pode mudar radicalmente o destino da criança, não apenas em termos de crescimento e desenvolvimento, mas também em questões intelectuais e sociais.

Atualmente, os estudos sugerem que a nutrição no período da gestação e nos primeiros 2 anos de vida pode determinar efeitos, a curto e a longo prazo, na saúde e no bem-estar até a vida adulta. Já se sabe, também, que a genética não é soberana na determinação do potencial de crescimento e desenvolvimento do indivíduo: cerca de 20% dos nossos genes são influenciados por fatores hereditários, enquanto a maior parte deles, até 80%, é influenciada por fatores ambientais como: medicamentos, estresse, infecções, exercícios e a nutrição.

Por isso, uma alimentação adequada durante a gestação, associada ao aleitamento materno, à correta introdução alimentar e à manutenção de bons hábitos nos primeiros 2 anos de vida pode determinar efeitos, a curto e a longo prazo, na saúde e no bem-estar da criança até a vida adulta.

Além dos 1000 dias 

Esse conceito dos 1000 dias tem sido muito estudado e aplicado, mas o que pouca gente sabe é que a programação metabólica das crianças já acontece antes mesmo da concepção. Cada dia mais estudos vêm mostrando que não só a saúde da mãe, mas a alimentação dos pais ANTES mesmo da concepção pode afetar a saúde da criança, mesmo depois de adulta.

Como aproveitar o conceito dos 1000 dias na prática

1000 dias

Antes da concepção

Sabendo que nossos hábitos de vida antes mesmo da gravidez podem impactar a saúde e desenvolvimento dos nossos filhos,não espere o positivo no teste para mudar seus hábitos! Se você estiver planejando uma gestação, cuide da sua saúde por, no mínimo, 3 meses ANTES da concepção.

Isso implica em cuidar da alimentação, praticar atividades físicas, abandonar hábitos nocivos como fumar e ingerir bebidas alcoólicas e, claro, realizar um check up de saúde. Isso é válido para os dois membros do casal, não somente para a mãe. Se necessário também é importante realizar suplementações específicas para esse período pré-gestacional. 

Não esqueçam também de cuidar da saúde mental e do estresse do dia a dia. Muito além dos nutrientes, o ambiente em que vivemos interfere nos nossos genes (e nos dos nossos filhos). Então procure, desde essa fase, cultivar um ambiente saudável e agradável onde você vive e nas suas relações! 

Na gestação

Depois do tão esperado positivo, esses cuidados com a sua saúde devem ser mantidos, dentro do possível e indicado pelo médico, durante toda a gestação. E aqui, além do cuidado com a saúde da mãe e do ambiente em que vivem, iniciam-se os cuidados emocionais com o bebê. 

Desde a 21ª semana de gestação, o feto já apresenta um desenvolvimento quase completo do seu aparelho auditivo, o que o torna capaz de identificar sons internos e externos. Por esse motivo, tudo que é falado ou tocado para o bebê a partir dessa semana pode ser identificado e memorizado por ele.

Esse é o momento de aproveitar os benefícios da música para bebê e tocar ou cantar música, conversar com ele e, mais uma vez, manter o ambiente a sua volta tranquilo e seguro, pois o bebê sente sua agitação e seu estresse da mesma forma que aprecia os momentos de tranquilidade, as conversas e músicas que você dedica para ele!

Após o nascimento

Nos primeiros 2 anos de vida do bebê é importante continuar aproveitando essa janela de oportunidade de programação metabólica, genética e comportamental para incentivar hábitos saudáveis. Esses hábitos, se bem conduzidos durante esse período, ajudarão a garantir um futuro no qual as habilidades cognitivas, motoras e sociais estimularão a saúde e o potencial máximo do adulto.

Mais uma vez esses cuidados vão além da alimentação e incluem estímulos lúdicos, sociais e culturais também. 

Deixarei abaixo alguns conteúdos importantes que já temos aqui no De Mãe em Mãe sobre amamentação, introdução alimentar, uso de telas, importância do lúdico e mais, que vão te ajudar na formação desses hábitos para o seu filho!

Pós-parto e amamentação:

Introdução alimentar

Rotina e sono

Saúde

Estilo de vida

De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!

Referências

Bhutta ZA, Ahmed T, Black RE, et al. What works? Interventions for maternal and child undernutrition and survival. Lancet. 2008;371(9610):417-440. doi:10.1016/S0140-6736(07)61693-6

Beluska-Turkan K, Korczak R, Hartell B, et al. Nutritional Gaps and Supplementation in the First 1000 Days. Nutrients. 2019;11(12):2891. Published 2019 Nov 27. doi:10.3390/nu11122891

Schwarzenberg SJ, Georgieff MK; COMMITTEE ON NUTRITION. Advocacy for Improving Nutrition in the First 1000 Days to Support Childhood Development and Adult Health. Pediatrics. 2018;141(2):e20173716. doi:10.1542/peds.2017-3716

McPherson NO, Fullston T, Aitken RJ, Lane M. Paternal obesity, interventions, and mechanistic pathways to impaired health in offspring. Ann Nutr Metab. 2014;64(3-4):231-238. doi:10.1159/000365026

Öst A, Lempradl A, Casas E, et al. Paternal diet defines offspring chromatin state and intergenerational obesity. Cell. 2014;159(6):1352-1364. doi:10.1016/j.cell.2014.11.005

Skinner MK. Metabolic disorders: Fathers’ nutritional legacy. Nature. 2010;467(7318):922-923. doi:10.1038/467922a

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