Pode ser difícil conversar com seus filhos sobre racismo. Alguns pais pensam que devem evitar conversar com crianças sobre raça ou racismo, porque isso faz com que elas percebam a raça ou se tornem racistas. Outros evitam falar sobre algo que eles próprios podem não entender totalmente ou não se sentem confortáveis para discutir. Ainda outros, especialmente aqueles que sofreram racismo, simplesmente não têm essas escolhas.
O racismo estrutural é uma realidade no Brasil e abolir essa prática discriminatória é algo complexo, mas que pode mudar se as novas gerações forem conscientizadas desde cedo das injustiças e da desigualdade social que existe no país, evitando assim que reproduzam padrões de preconceito racial tão enraizados em nossa sociedade.
Há uma frase famosa de Nelson Mandela que diz “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.
Cabe aos pais esse papel de falar com as crianças sobre racismo e as diferentes formas de discriminação racial que infelizmente ainda são comuns no Brasil e as conversas sobre racismo e discriminação serão diferentes para cada família. Embora não haja uma abordagem única para todos, quanto mais cedo os pais iniciarem a conversa com os filhos, melhor.
Acho importante destacar que eu escrevo do lugar de uma mulher branca, mãe de filhos brancos, que ensina sobre gentileza e equidade para eles. As informações que trarei a seguir são um compilado do que eu estudo, leio, me informo e aplico na minha maternidade, e deixarei algumas referências que utilizei no final desse texto. É importante estar consciente que, deste lugar, estamos sempre aprendendo sobre o nosso papel na construção e desconstrução dessas estruturas.
Como falar sobre racismo com as crianças: 5 atitudes que os pais devem adotar
- Exemplo no dia a dia
Os pais são a introdução dos filhos ao mundo. O que eles veem você fazer é tão importante quanto o que eles ouvem você dizer.
Como a linguagem, o preconceito é aprendido com o tempo. Ao ajudar seu filho a reconhecer e enfrentar o preconceito racial, você deve primeiro considerar o seu próprio – seu círculo de amigos ou as pessoas com quem você trabalha representam um grupo diversificado e inclusivo?
- Amplie o repertório
Tente encontrar maneiras de apresentar seu filho a diversas culturas e pessoas de diferentes raças e etnias. Essas interações positivas com outros grupos raciais e sociais desde o início ajudam a diminuir o preconceito e encorajam mais amizades entre grupos.
Você também pode trazer o mundo exterior para dentro de sua casa. Explore comidas de outras culturas, leia suas histórias e assista a seus filmes.
Esteja ciente do preconceito racial em livros e filmes e procure aqueles que retratam pessoas de diferentes grupos raciais e étnicos em papéis variados. Considere histórias que apresentam atores minoritários interpretando personagens complexos ou principais. Isso pode ajudar muito no confronto de estereótipos raciais e discriminatórios.
Essas são excelentes oportunidades de estender a conversa de maneira mais lúdica e leve com elas. Ampliar as referências da criança é importante para ela enriquecer e ser enriquecida pelas diferenças e não ter a visão de melhor ou pior, para que ela perceba que o grupo todo se beneficia quando lida com as diferenças.
- Não brinque com coisa séria
Mesmo que na sua casa não role piadinhas racistas ou de mau gosto, sabemos que pode acontecer de o seu filho ouvir coisas do tipo na escola, na casa do amigo e por aí vai. E pode acontecer de ele acabar reproduzindo isso sem entender de fato o que significa. Neste momento, não releve ou dê risada: aproveite para explicar, com calma e acolhimento, o por quê esse tipo de discurso não é legal.
- Modelos a seguir
Evite reduzir a presença de pessoas de outras raças a uma visão de assistencialismo. A diversidade precisa estar presente em igualdade nos relacionamentos dos adultos para que isso possa estar presente também na vida das crianças.
Mostre e fale de pessoas que você admira, como um ator, uma cantora, uma empresária, que sejam de diferentes raças, mostrando fotos e vídeos. Essa é uma maneira muito boa de inserir mais diversidade e tom de igualdade no contexto da criança.
- Celebre as diferenças. Não somos todos iguais.
As crianças percebem as diferenças desde cedo, mas ainda sem segregar. Entre os três e cinco anos, ela começa a adquirir um senso estético e aí pode perguntar, ter curiosidade sobre essas diferenças. Neste momento, o legal é pontuar todas as diferenças que existem entre os seres humanos, como “meu cabelo é igual ao seu?”, “o nariz do papai é igual ao da mamãe?”, e aí falar que com a cor da pele é a mesma coisa.
O ideal é abordar o assunto sem um olhar reducionista. Por exemplo, não falar em “cor de pele” quando vai desenhar ou pintar. A pele pode ter diferentes e inúmeras cores.
Com o passar do tempo elas também entendem que não são só as características físicas que nos diferenciam, mas outras coisas, como modo de pensar, valores, crenças e religião.
- Procure uma educação antirracista na escola
Se os seus filhos estão na escola, informe-se com os professores sobre como o racismo é abordado nas aulas e sobre as regras e regulamentos da escola para preveni-lo e lidar com ele.
Esse é um passo importante já que nossos filhos passam grande parte do tempo na escola. Mais do que pensar em grade curricular tradicional, precisamos levar em consideração como a escola lida com o desenvolvimento das habilidades sociais, culturais e emocionais dos nossos filhos. Eu falo detalhadamente sobre a importância dessas habilidades aqui nesse vídeo.
Eu bato no pé para essa escolha escolar e já vivi uma situação com o Gustavo que ilustra um pouco isso. Em casa, desde cedo, ensinamos sobre diversidade racial e ele nomeava as cores das peles, quando estava desenhando, pelas cores dos lápis: marrom, bege, salmão. Quando ele foi para a primeira escolinha, tempo depois chegou em casa falando sobre ter perdido o lápis cor de pele dele. Nunca falamos esse termo em casa, foi algo que ele provavelmente ouviu na escolinha e marcou.
Como eu falei no começo do texto, falar sobre racismo, principalmente quando não tivemos essa conversa com os nossos pais, é difícil, mas importante e essencial. Precisamos saber ter consciência do quão longe chegamos e o quanto ainda temos que ir. Essas experiências compartilhadas podem ajudar ainda mais seu filho a construir confiança e abertura para diferentes perspectivas.
Me conta aqui nos comentários como é essa abordagem na sua família? Vamos ampliar e enriquecer essa discussão!
De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!
Referências
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Talking to your kids about racism. How to start the important conversation and keep it going. Publicado em: junho de 20220. Disponível em: https://www.unicef.org/parenting/talking-to-your-kids-about-racism. Acessado em novembro de 2021.
The Conscious Kid. How to talk to kids about race. Disponível em: https://www.theconsciouskid.org/resources. Acessado em: novembro de 2021.