Saiba como identificar condições como a depressão pós-parto
No período de gestação, é comum nos preocuparmos com o bem-estar físico do bebê e também da futura mamãe. Porém, o que a bateria de exames e testes clínicos muitas vezes pode deixar passar em segundo plano é outro tipo de saúde essencial: a da mente.
Afinal de contas, cuidar da saúde mental materna é tão importante quanto se atentar com os cuidados físicos. Descobri recentemente e fiquei surpresa que, os índices de suicídio e depressão podem ser maiores nos momentos que sucedem o parto. Esse é mais um motivo pelo qual não podemos deixar essas questões de lado.
Hoje, dia 10 de outubro, é o Dia Mundial da Saúde Mental, e vou explicar o porquê devemos falar sobre esse tema sem termos medo de encará-lo:
Por que devemos falar sobre saúde mental materna?
Muita gente ainda acha que conversar a respeito da saúde mental das mães é como se fosse um tabu ou considera que é apenas um sintoma comum da gravidez e que vai passar, mas essa não é a realidade.
Durante a gestação e o puerpério (período pós-parto), a mulher está mais propensa a lidar com aspectos ligados a ansiedade, estresse, depressão, esgotamento mental e, em casos mais graves, tendência ao suicídio.
E o ciclo não se estende apenas nos nove meses da gravidez ou em alguns dias após o nascimento da criança. Há relatos de casos de saúde mental fragilizada que duraram até três anos depois do parto.
O maior problema é que, muitas das mães que apresentam sinais de que a saúde mental não está legal, estão sozinhas para cuidar do bebê e para encarar essa nova etapa da vida. Além de seguir com acompanhamento médico e psicológico mesmo após o parto, temos falado e ouvido falar muito sobre como montar uma rede de apoio é parte fundamental do processo de recuperação, mas, infelizmente, a rede de apoio ainda é um luxo para muita gente. e a sobrecarga física e mental após a maternidade é pesada, o que contribui fortemente para fragilizar a saúde mental da mãe. Separei abaixo as principais condições de saúde mental mais comuns nessa fase da vida e que precisam de atenção:
Baby blues
Uma questão que envolve a saúde mental materna é um termo que se popularizou nos Estados Unidos, chamado baby blues. Nessa condição, os sintomas são bem parecidos com alguns da depressão pós-parto, como a sensação de ser incapaz de cuidar do bebê, a dificuldade para amamentar e as mudanças de humor.
Diferentemente do que algumas pessoas acreditam, o que distingue o baby blues da depressão pós-parto não é o tempo de duração, mas a intensidade dos sintomas. Tem um post aqui explicando detalhadamente as diferenças entre depressão pós-parto e baby blues, clique aqui e confira! Além disso, o tratamento também é mais leve. Uma boa alimentação, apoio dos familiares e amigos e noites de sono bem dormidas já são capazes de auxiliar as mães a se recuperarem dessa condição.
Depressão pós-parto
A depressão pós-parto (DPP) é o sentimento de tristeza e vazio que muitas mulheres têm durante ou após a gravidez. Costuma durar mais do que duas semanas e pode incluir sintomas como falta de amor ou empatia com o recém-nascido, mau humor constante, crises de choro inacabáveis, sono e alimentação desregulados, e pensamentos de machucar a si mesma ou ao bebê.
Outros pensamentos que costumam ser comuns em mães com depressão pós-parto incluem a sensação de se achar inútil ou incapaz, afastamento dos amigos e dos familiares, problemas de concentração e memória, falta de motivação e dores de cabeça.
E as causas por trás dessa condição são múltiplas. A nova mamãe pode se sentir extremamente cansada com o trabalho de parto ou, por ter o sono interrompido frequentemente, pode ter dúvidas sobre sua capacidade de ser uma boa mãe, se achar menos atraente ou com falta de tempo livre.
Complicações no período gestacional, privação de sono e ser vítima de violência pelo parceiro apontam como agravantes dessa depressão e que, nos últimos anos, a morte por automutilação tem sido apontada como a principal causa de óbito em mulheres durante o primeiro ano após o parto, segundo os dados da entidade americana Maternal Mental Health Leadership Alliance — uma organização não governamental sem fins lucrativos para saúde mental de mães gestantes ou puérperas.
Ao notar que você ou alguém próximo se enquadra nesses sintomas, não deixe de consultar seu obstetra ou médico para falar a respeito. Não tenha medo de contar o que está sentindo. E lembre-se: as duas formas mais indicadas de ajudar mulheres nessa situação é por meio de terapia e de medicação apropriada em casos mais severos.
Em situações extremas você também pode entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo site deles ou pelo número de telefone 188.
Como ajudar mães que estão com a saúde mental debilitada?
Aqui eu quero conversar não só com quem é mãe e está no puerpério, mas se você é amiga, irmã, parceira ou parceiro: não podemos esperar que as mulheres levantem a mão e peçam ajuda porque, quando fazem isso, precisam de ajuda há muitas semanas. Se você suspeitar que alguém se enquadra em uma dessas condições citadas, veja o que reparar e como auxiliar:
Frases importam
Se frases como “não vou conseguir”, “já tentei de tudo”, “pra mim chega”, “não aguento mais”, “quero sumir daqui”, entre outras similares forem declaradas com frequência, isso pode ser um indicativo de que a mulher está com sintomas de DPP ou tendência ao suicídio pós-parto.
Ouça mais, fale menos
Ao ter uma conversa com a pessoa, tente escutar mais o que ela tem para falar e evite cobranças ou promessas por parte dela, pois podem piorar o quadro depressivo, por exemplo.
Demonstre apoio
É fundamental mostrar que ela não está sozinha. Ajude-a com a criança, faça tarefas domésticas, deixe-a se sentir valorizada, especialmente nos meses iniciais da vida materna.
Mais que Mãe
Precisamos cuidar de quem cuida. Esses números de ansiedade, depressão e suicídio pós-parto são resultado de um processo histórico de sobrecarga e descaso com a mãe que nasceu.
Durante toda a gestação, somos acompanhadas de perto pelo obstetra e, depois que o bebê nasce, todos os olhares e cuidados, inclusive médicos, são voltados para o bebê. Essa mãe precisa de escuta, amparo, acolhimento e cuidado e esse será o balizador do De Mãe em Mãe para 2023.
A saúde mental materna será abordada aqui de diferentes formatos, abrangendo diferentes frentes para ajudar você a se enxergar como mais que mãe e eu preciso da sua ajuda para que esse projeto seja realmente transformador!
Clique aqui para saber como você pode ajudar de maneira rápida e totalmente gratuita.
De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!
Referências bibliográficas:
Postpartum depression. OASH, acesso em setembro de 2022.
Balaram K. Postpartum Blues. StatPearls, 2022.
Suicide Attempts More Common During Postpartum Period, and More Lethal. MGH Center, Harvard School, 2020.