De Mãe em Mãe

Hábitos saudáveis: consequência da introdução alimentar

A infância é uma fase de grande transição na vida de um ser humano, que passa por um período de aprendizagem e aquisição de novos hábitos, os quais tendem a perpetuar na vida adulta. Isso significa que uma introdução alimentar bem conduzida é o pilar que vai garantir hábitos saudáveis de alimentação na vida adulta. Confira a seguir como e porque isso acontece!

A importância da gestação na formação de hábitos alimentares saudáveis

influência da introdução alimentar na construção de hábitos saudáveis
Imagem: Canva

Os hábitos alimentares do bebê são construídos ao longo do seu desenvolvimento, tendo como momentos cruciais a amamentação e a introdução alimentar. Mas e se eu te disser que a introdução alimentar tem seus primeiros momentos não na transição da amamentação para os alimentos, mas desde a barriga da mãe?

Sim!  Pesquisas recentes confirmam que sim, o contato com aromas e sabores ocorre desde cedo, ainda na fase intrauterina, e esta interação modula o paladar e influencia nas preferências alimentares futuras da criança. Inclusive este é um dos pilares do conceito dos 1000 dias do bebê.

Isso acontece porque as papilas gustativas – aqueles pontinhos que temos na língua responsáveis por detectar as variedades de sabores – começam a se formar entre a sétima e a oitava semana da gestação. Os sabores doce, salgado, amargo e ácido são sentidos por meio do líquido amniótico.

O líquido pode ficar levemente mais salgado, mais adocicado, um pouquinho mais amargo e são essas pequenas variações que são extremamente discretas que para o bebê ainda intra-útero são importantes para que ele treine o seu paladar.

Por isso, é importante que as mães priorizem a variedade de alimentos, sem maiores restrições, para que a criança tenha contato com os diferentes sabores e aromas levados pelo líquido amniótico. Essa é a primeira experiência do paladar do bebê.

Aleitamento materno

Imagem: Canva

A Organização Mundial da Saúde recomenda que após o nascimento, o bebê seja alimentado exclusivamente com leite materno. Nesse período, é importante saber que tudo que a mãe ingerir irá influenciar no sabor do leite.

A composição do leite materno não é permanente, ele muda de acordo com o período da vida do bebê, de acordo com as necessidades e até doenças do bebê e também de acordo com os alimentos ingeridos pela mãe. 

Alguns alimentos podem transferir não só seus nutrientes, mas o gosto e sabor para o leite materno, o que já vai introduzindo uma nova variedade de sabores ao repertório de paladar do seu bebê!

Dessa forma, manter uma alimentação variada durante a amamentação traz não só benefícios para a saúde da mãe, mas para a construção do paladar do seu bebê! 

Alimentação na amamentação: o que comer e o que evitar

Introdução alimentar na construção de hábitos saudáveis

A introdução da alimentação complementar representa um marco no desenvolvimento da criança e gera muitas dúvidas e insegurança aos pais. Após completar 6 meses e apresentar todos os sinais de prontidão, o bebê poderá iniciar o consumo de alimentos. 

Até então falei da construção do paladar de maneira mais subjetiva, onde o bebê é apresentado, no útero e no leite materno, a variações mais sutis de gosto e sabor. Agora, nessa fase, ele será exposto aos primeiros alimentos e suas texturas, sabores e cores. Além disso, é nesse momento em que seu bebê começará a construir a sua relação com a comida, e é por isso que essa transição da amamentação para o consumo de alimentos servirá como base para a construção de uma alimentação saudável futura.

Não vou me alongar aqui sobre como realizar uma introdução alimentar com sucesso porque além de cursos, existem diversos conteúdos sobre isso aqui no De Mãe em Mãe, basta digitar “introdução alimentar” na barra de pesquisa para navegar por todos eles. 

Agora eu quero explicar os benefícios mais diretos de uma introdução alimentar bem conduzida!

1- Consumo adequado de nutrientes

A recomendação para que a introdução alimentar se inicie aos 6 meses é porque a partir desse momento o leite materno deixa de ser suficiente para fornecer todos os nutrientes que seu bebê precisa. Por isso a alimentação complementa essa ingestão nutricional.

Para que haja essa complementação nutricional, o bebê precisa receber variedade de alimentos que vão fornecer vitaminas, fibras, carboidratos, proteínas e gorduras, nutrientes essenciais para o bom desenvolvimento e crescimento do seu filho. 

Quando a introdução alimentar é bem conduzida, o bebê recebe todos esses nutrientes gradativamente e, com um ano, passa a ter uma alimentação completa e perfeitamente capaz de suprir todas as suas necessidades nutricionais. 

2- Auxilia o Desenvolvimento Infantil

A introdução alimentar auxilia não só na alimentação saudável, mas em outros aspectos do desenvolvimento infantil. Por exemplo, a partir dos 6 meses o bebê já consegue pegar os alimentos utilizando os movimentos de preensão palmar.

Assim, essa transição alimentar é uma ótima oportunidade para trabalhar com os estímulos sensitivos, como o tato e o olfato. Pegar o alimento, sentir seu cheiro e sabor, mastigar etc. Todos esses processos são fundamentais para a criança. E essa fase será de extrema importância para o aprendizado e desenvolvimento do bebê.

A partir dos nove meses o bebê já consegue fazer outros movimentos com a mão, como o movimento de pinça, pegando o alimento e levando até a boca. Oferecendo alimentos em cortes menores, por exemplo, você auxilia para que esse movimento de coordenação motora fina seja fortalecido nesse período, assim a criança terá mais facilidade em desenvolver atividades manuais com o passar do tempo.

3- Estabelece uma boa relação com a comida

Quando a mãe alimenta seu bebê em um ambiente tranquilo e favorável a criança poderá brincar e explorar o alimento com alegria. Comer junto com a criança, conversar amorosamente são formas de estimular na hora da alimentação, o que facilita todo o processo de introdução alimentar.

Muitas vezes a criança, que aprendeu estímulos novos, acaba brincando com a comida ou jogando no chão. Isso também é aprendizado! Além da criança brincar, ela acaba aprendendo e se adaptando aos novos estímulos.

Além de tudo, é mais fácil a criança se adaptar e querer se alimentar dentro de um ambiente em que a mãe brinca e torna o comer um momento de fortalecimento de vínculo. 

Aqui também é importante ressaltar que, para que esse ambiente de alimentação seja seguro, saudável e acolhedor para o seu bebê, você também não deve forçá-lo a comer quando ele não quiser mais, nem oferecer recompensas para que ele se alimente (por exemplo: se comer tudo ganha sobremesa; se não comer não vai brincar). Essas atitudes podem associar a comida a um momento ruim. 

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Essa associação negativa com a comida ou com o momento de comer, no futuro, pode ser gatilho para o desenvolvimento de algum transtorno alimentar. 

4- Diminuição do risco de Seletividade Alimentar

No período de introdução alimentar, é importante que a comida variada seja mostrada ao bebê. Ao colocar no prato variados grupos alimentares separadamente e oferecê-los à criança, ela irá se familiarizar com os sabores e lá na frente o risco de seletividade alimentar será reduzido, já que ela conhecerá os sabores.

Quando o bebê atingir a faixa entre 18 e 24 meses, ele poderá entrar numa fase de seletividade alimentar esperada para a idade. Essa fase é também conhecida como “os terríveis dois anos”, e o bebê tende a recusar alimentos até já conhecidos.

Então, quanto mais você fornecer alimentos variados, melhor! 

Saiba mais sobre como conduzir a alimentação da criança seletiva!

5- Prevenção da Obesidade

Quando o bebê consome uma comidinha em pedacinhos, ele precisará mastigar, o que levará mais tempo para realizar a refeição, resultando em uma quantidade ingerida menor. 

Isso facilita a saciedade e ajuda na auto regulação do apetite do bebê. Dessa forma, ele irá consumir a quantidade de nutrientes que o seu corpo precisa e não em excesso. 


Além disso, se a introdução alimentar for bem conduzida, ofertando todos os grupos de alimentos, ele comerá com qualidade! 

Essa combinação de alimentação em qualidade e quantidade ideais, ajuda a prevenir não somente a obesidade, mas outras doenças crônicas como colesterol alto, hipertensão, diabetes tipo 2, doença cardiovascular, osteoporose, cáries entre outros.

De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!

Referências

Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de Alimentação: orientações para alimentação do lactente ao adolescente, na escola, na gestante, na prevenção de doenças e segurança alimentar, 2018.

Ministério da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, 2019.

Spahn JM, Callahan EH, Spill MK, et al. Influence of maternal diet on flavor transfer to amniotic fluid and breast milk and children’s responses: a systematic review. Am J Clin Nutr. 2019;109(Suppl_7):1003S-1026S. doi:10.1093/ajcn/nqy240

De Cosmi V, Scaglioni S, Agostoni C. Early Taste Experiences and Later Food Choices. Nutrients. 2017;9(2):107. Published 2017 Feb 4. doi:10.3390/nu9020107

Fewtrell M, Bronsky J, Campoy C, et al. Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on Nutrition. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2017;64(1):119-132. doi:10.1097/MPG.0000000000001454

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