Saiba diferenciar vontade de desejo e o que fazer quando chegar esse momento
Se você, assim como eu, passou pelos nove meses de uma gestação, sabe que existem determinados momentos que ocorrem do nada e que, muitas vezes, são insaciáveis: os famosos desejos na gravidez.
Pode ser desde uma simples fruta que nunca experimentamos até um rebuscado cachorro-quente de rua, mas definitivamente, é o pesadelo para muitos cônjuges que se sentem na obrigação de ir atrás dessa refeição, independente do local e horário.
Mas calma! Não é porque esse desejo acontece que, se não for concluído, seu filho vai nascer com a cara no formato do alimento. Hoje, vou desmistificar tudo acerca desse momento da gestação, o que é verdade e o que não passa de boato ou crença popular:
O que são os desejos na gravidez?
Pode até parecer invenção ou desculpa da futura mamãe para comer alguma coisa específica, mas não é. Os desejos na gravidez são cientificamente comprovados, e são bem diferentes de uma simples vontade no dia a dia.
A principal teoria sugerida pelos estudos é de que as alterações hormonais ao decorrer da gestação são as principais causas dos desejos na gravidez. Juntamente da carga emocional, do estresse, da ansiedade e do fato de ter que aumentar a ingestão alimentar para dar conta de produzir outro ser humano, essa série de fatores pode desencadear uma necessidade absurda por um alimento.
Por um lado, alguns cientistas defendem que não há riscos à saúde fazer essa quebra na rotina para comer um alimento fora de hora. Por outro, existem médicos que se mostraram preocupados com o quanto esses desejos na gravidez podem afetar a quantidade e a qualidade de alimentos consumidos nesse período.
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Não existe uma regra de quando ou como eles surgirão, mas dependendo do que for esse desejo, é preciso ter cuidado para que não sejam frequentes, o que poderia levar a um ganho de peso excessivo ou até desenvolvimento de alguma condição como diabetes gestacional durante a gestação. Por isso, consultas com um nutricionista podem ajudar a lidar com essas ondas de vontade.
Mitos e verdades sobre os desejos na gravidez
Ao falarmos desse assunto, você provavelmente deve ter se lembrado de alguma história engraçada ou de uma crença popular a respeito de não cumprir os desejos da gestante, certo? Por isso, vou te mostrar a seguir o que é fato e o que é fake quando o assunto são os desejos na gravidez:
1- Toda gestante sente desejo
Mito. O número estimado de gestantes que sentem o desejo de consumir algo incansavelmente é de 70%, ou seja, cerca de 2 a cada 3 mulheres. Portanto, se você não sentir essa vontade nos nove meses, não é preciso entrar em pânico.
2- As gestantes que sentem desejo irão sempre pedir os mesmos alimentos
Mito. Um estudo feito na Tanzânia revelou que essa afirmação é falsa. Os pesquisadores compararam o consumo de desejo entre mulheres americanas e africanas. Enquanto as dos EUA preferiam alimentos doces e fast food nos desejos, as da Tanzânia preferiam carnes e frutas como manga, o que apontou que o desejo varia de diversas formas ao redor do mundo.
3- Desejos na gravidez podem incluir gelo, terra e outros materiais não comestíveis
Parcialmente verdade. De fato, existe um transtorno responsável por causar esse tipo de vontade em seres humanos, que é chamado pelos cientistas de síndrome de pica ou picamalácia. Só que, nesses casos, não é algo exclusivo para as gestantes, e outros humanos também podem sentir essa compulsão absurda por comer um pedaço de gelo ou de um material não-comestível.
O que se sabe a respeito do transtorno também é que ele pode surgir em pessoas que estão com deficiência de ferro no sangue, e por isso, é comum que gestantes que estão anêmicas possam sentir esse tipo de desejo para suprir a fome e as necessidades nutricionais.
4- Os alimentos desejados são equivalentes às carências nutricionais da gestante
Mito. Não é porque você está com desejo de sorvete que o seu corpo precisa de cálcio, ou que um churrasco signifique falta de ferro. Para saber o que seu corpo precisa nutricionalmente, verifique sempre os seus exames periódicos e siga uma alimentação adequada com acompanhamento nutricional.
5- Você pode acabar querendo comida que nem gosta
Verdade. Não existe uma explicação lógica aqui, mas mesmo as comidas que não somos muito fãs podem acabar fazendo parte dos desejos na gravidez. Uma possível resolução para isso é que o paladar e o olfato também se modificam ao longo da gestação.
6- Os desejos na gravidez irão dizer o sexo do bebê
Mito. Não há estudos que comprovem que a predileção por uma fruta, por exemplo, irá dar indício de que seu bebê será menino ou menina. Apenas exames como o ultrassom morfológico ou exame de sexagem fetal irão ajudar nessa questão.
7- Deixar de realizar o desejo causará problemas de saúde na criança
Mito. Novamente, não existe comprovação científica que a falta de realização dos desejos leve ao surgimento de manchas ou defina o formato da cabeça do bebê, por exemplo. O máximo que pode acontecer é deixar a gestante irritada ou com fome.
8- Dá para enganar o cérebro da gestante para cessar o desejo
Verdade. Por último, mas não menos importante, não é preciso seguir à risca o desejo da gestante para saciá-lo. Se você acordou às três da madrugada com vontade de comer batata frita, mas não quer pedir ou sujar a fritadeira, tente substituir por cenouras cortadas em palitos para simular a mesma sensação de algo crocante.
Alguns estudos apontam que esse tipo de substituição, mesmo que de forma consciente, costuma funcionar para saciar a fome.
No mais, você pode aproveitar esse momento sem culpa e sem neura. Com acompanhamento certinho do seu obstetra e da sua nutricionista para garantir que está tudo bem com a sua saúde e a do bebê, aproveite o momento, não é toda hora que todo mundo está disposto a satisfazer suas vontades ahaha Mas caso não role, não precisa se preocupar porque nada vai acontecer com você ou com seu bebê (e nem dá terçol em ninguém também rsrs).
Ficou com mais alguma dúvida sobre desejos na gravidez? No meu instagram @gibelarmino_ você encontra mais dicas para a saúde da gestante.
De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!
Referências bibliográficas:
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