A Vacina BCG é a famosa vacina da marquinha que temos no braço. Basicamente, ela serve para proteger a criança contra a bactéria da tuberculose. Esta é uma vacina gratuita, disponibilizada pelo SUS, e pode ser aplicada em postos de saúde ou na maternidade.
Por muito tempo, o surgimento da cicatriz era o indicativo de que a vacina funcionou e estava, de fato, fazendo efeito, o que faz com que muitas mães, ao perceberem que seus filhos não desenvolveram a marquinha após a vacina, levassem seus filhos para serem vacinados novamente.
Mas será que é realmente necessário? Quando não fica a marquinha, é preciso tomar uma nova dose da vacina BCG? Para que serve a vacina BCG?
Vou explicar tudo no texto de hoje, confira!
Para que serve a vacina BCG?
A BCG previne tuberculose, principalmente as formas graves, como meningite tuberculosa e tuberculose miliar (espalhada pelo corpo).
É aplicada geralmente nos recém-nascidos, mas pode também ser usada em crianças de até cinco anos. principalmente as formas graves, como meningite tuberculosa e tuberculose miliar (espalhada pelo corpo).
Por que a vacina BCG deixa marquinha?
A cicatriz é o resultado da reação imunológica do corpo à bactéria Mycobacterium bovis, usada de maneira atenuada na fabricação da vacina.
Após a aplicação da injeção, um perímetro de cerca de 1 centímetro ao redor do local em que a agulha entrou reage a esse pedacinho da bactéria, causando uma inflamação local. Visto do lado de fora, essa inflamação se apresenta como uma casquinha vermelha, que então amolece, pode soltar pus e aí cicatriza ao longo de três semanas.
Eis a marquinha no braço. Essa inflamação é resultado das células do sistema imunológico trabalhando para reconhecer e combater a bactéria da tuberculose.
Se essa é a vacina da marquinha, o que acontece se a cicatriz não aparecer?
Como a cicatriz é resultado da reação do corpo à bactéria, usada na fabricação da vacina, acreditava-se que o surgimento dela confirmava que o corpo havia aprendido a se defender do bacilo causador da doença. Por isso, até 2019, por recomendação do Ministério da Saúde, crianças que não desenvolviam a clássica marca no braço até seis meses após tomarem a vacina tinham que receber uma nova dose.
Entretanto, novas evidências científicas mostram que a imunização não necessariamente deixa marcas na pele e não há evidências de qualquer benefício na repetição da vacinação. A Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde afirmam que diversos estudos comprovaram a eficácia da dose em crianças que não ficaram com a marca da vacina
Diante desse cenário, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) atualizou a conduta para crianças que, embora vacinadas, não desenvolveram cicatriz vacinal, passando a não mais indicar a revacinação de crianças que não desenvolveram cicatriz.
Essa recomendação é endossada também pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
Sobre a segurança e eficácia da vacina BCG
Vivemos em tempos em que a segurança e eficácia das vacinas tem sido questionadas e muitas pessoas estão deixando de se vacinar e vacinar seus filhos.
Já fiz um post aqui explicando passo a passo do processo de produção de uma vacina, desde o primeiro estudo até a disponibilização para vacinação nacional.
Ainda assim acho válido ressaltar que as vacinas BCG continuam sendo as únicas vacinas em uso para prevenção de tuberculose. A vacina BCG está disponível em todo o mundo e, entre elas, uma das mais utilizadas no mundo é a brasileira.
A vacina BCG não oferece eficácia de 100% na prevenção da tuberculose pulmonar, mas sua aplicação em massa permite a prevenção de formas graves da doença, como a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar (forma disseminada).
No Brasil, embora a incidência de tuberculose pulmonar venha aumentando, quase não são mais registradas as formas graves da doença. Outro exemplo da importância da vacinação foi o aumento do número de casos de tuberculose em crianças, registrado quando a Suécia suspendeu a vacinação de rotina.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, nos países onde a tuberculose é frequente e a vacina integra o programa de vacinação infantil, previna-se mais de 40 mil casos anuais de meningite tuberculosa. Impacto como este depende de alta cobertura vacinal, razão pela qual é tão importante que toda criança receba a vacina BCG.
Confira todas as vacinas que, além da BCG, são extremamente importantes para as crianças e confira quais estão disponíveis no SUS e quais são interessantes ser aplicadas em clínica particular.
De Mãe em Mãe, construiremos um novo maternar
Referências
World Health Organization. Evidence to recommendation table: Need for revaccination. Disponível em: http://www.who.int/entity/immunization/policy/position_papers/bcg_evidence_recommendation_table_revaccination.pdf. Acesso em maio de 2022.
World Health Organization. BCG vaccines: WHO position paper. Weekly Epidemiological Record No 8, 2018, 93, 73–96. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/260306/WER9308.pdf?sequence=1. Acesso em Maio de 2022.
Sociedade Brasileira de Pediatria. NOTA INFORMATIVA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA EM RELAÇÃO À REVACINAÇÃO COM BCG EM CRIANÇAS NA AUSÊNCIA DE CICATRIZ PÓS-VACINAÇÃO. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Nota_Informativa_Vacina_BCG_Para_SBP_ARPCRK-MS.pdf. Acesso em: Maio de 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Nota informativa nº 10/2019 CGPNI/DEVIT/SVS/MS. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/nota-informativa-10-2019-cgpni.pdf. Acesso em: Maio de 2022.