O desenvolvimento da fala, da linguagem e de habilidades cognitivas ocorrem nos primeiros anos de vida e desde o nascimento o bebê passa por processos importantes para sua comunicação. Cada criança tem suas particularidades, mas, em geral, há etapas semelhantes a serem cumpridas de acordo com a idade e o desenvolvimento cognitivo para estimular a fala que explico melhor abaixo.
Etapas do desenvolvimento da linguagem das crianças
0 a 12 meses
- É o estágio “pré-linguístico”. A criança não usa palavras, é um estágio preparatório da linguagem como a conhecemos.
- A criança se comunica com as pessoas. Chora se está com fome, com frio ou se a fralda precisa ser trocada, sorri socialmente, vocaliza e grita para exigir que seja atendida.
- É hora do choro diferenciado. A mãe é capaz de entender cada uma das suas mensagens. Ela sabe se o choro é por causa da fome ou do frio, já que em cada caso existem nuances diferentes.
- A criança brinca com os sons. Com o passar dos meses, a criança aprende a pronunciar vogais e algumas consoantes como por exemplo; “papapa”, “mamama” e “padada”.
- No final dessa etapa a criança participa do diálogo e pode repetir e produzir algumas palavras simples como “mimi” e “papa”.
12 a 24 meses
- Nesse período, a criança entende as ordens e as cumpre.
- É capaz de usar palavras simples. Geralmente, são substantivos que se referem a objetos conhecidos.
- Aponta figuras ou objetos nomeados pelos pais e faz pequenas intervenções a respeito de uma história curta que esteja escutando.
- Reconhece o próprio nome e apelido, respondendo quando é chamada.
- Há crianças que chegam ao final desse período com um domínio muito bom de vocabulário e estruturas linguísticas. Essa evolução depende, em grande parte, do estímulo que ela recebe das pessoas ao seu redor.
2 a 6 anos
- Nessa fase a criança irá combinar palavras em frases simples e elas vão se tornar cada vez mais complexas e melhor estruturadas até chegar a narrativa com maior organização.
- Até os 6 anos, a criança ainda pode apresentar alguns problemas na produção de grupos consonantais, como por exemplo em “prato” – “pato”.
- O nível de compreensão também se desenvolveu, e, além disso, a criança inicia e mantém a conversação por muitos turnos, com vários interlocutores, sobre temas abstratos.
Como estimular a fala das crianças
Em primeiro lugar, é preciso perceber se existem fatores que podem prejudicar a aquisição da fala, como problemas de audição ou visão, por exemplo. Outro fator é a falta de diálogo dos pais com as crianças, impedindo-as de viver interações e estímulos importantes para desenvolver a fala.
Crianças que chegam aos dois anos sem falar devem ser encaminhadas a avaliações com o neuropediatra, para verificar as possíveis origens da ausência dessa habilidade. Pode haver algum transtorno ou problema cognitivo.
Caso essas hipóteses sejam refutadas, é importante consultar um fonoaudiólogo para um tratamento focado e específico.
Por aqui o Muri apresentou um atraso na fala e fizemos todas as avaliações físicas necessárias. Mas ele passou metade do tempo de vida dele trancado em casa por conta da pandemia e o diagnóstico é falta de estímulo mesmo. Então estamos passando com a fono e fazendo alguns exercícios para ajudar.
Hoje vou compartilhar com vocês as dicas e exercícios simples que estamos fazendo com o Muri para ajudar a estimular a fala, seguindo as orientações da fonoaudióloga que o acompanha, e que podem te ajudar também:
- Pronuncie corretamente as palavras, usando boa articulação e entonação. Evite falar de forma infantilizada, utilizando diminutivos, ou pedir para que ela repita palavras.
- Dê à criança oportunidade para falar. Não atenda prontamente quando ela tentar se comunicar por meio de gestos, mesmo que você saiba o que ela deseja. Você pode perguntar à criança, por exemplo, se ela quer água e aguarde até que ele responda.
- Reforce de forma positiva qualquer tentativa de fala da criança, mesmo que a palavra seja produzida de forma incorreta.
- Quando a palavra for produzida de forma incorreta, devolva a criança de maneira correta, como por exemplo, a criança pede “neca” você pode responder “Você quer a boneca?”.
- Conte histórias, cante músicas, leia livros, explore os objetos e sons do ambiente com foco na descrição.
- Exercícios de sopro ajudam no fortalecimento da musculatura orofacial, que também pode interferir no desenvolvimento da fala. Algo simples como colocar um canudo em um copo com água e pedir para a criança soprar e fazer bolhas é um ótimo exercício!
- De palavras soltas, ensine formas frases: 1º ensine verbos flexionados, ex: quero, caiu, acabou, acende e ensine advérbios, ex: ali, cadê, onde; 2º faça pergunta em que a resposta esteja na própria pergunta, ex: ao invés de perguntar onde está o carrinho, pergunte – o carrinho está no quarto?
- Procure o fonoaudiólogo quando tiver dúvidas quanto ao desenvolvimento de linguagem e fala da criança. Não se deixe levar pela crença de que a criança amadurecerá, e com o tempo irá aprender a se comunicar melhor. Muitas crianças podem precisar de ajuda nesse processo e quanto antes iniciar o processo de terapia direcionada ao desenvolvimento de linguagem, melhor e mais rápidos serão os resultados evitando assim que essa dificuldade possa atrapalhar a aquisição de leitura e escrita, por exemplo.
Além de falar com vocês as dicas práticas que eu aplico aqui em casa com o Muri, convidei a Fonoaudióloga que nos acompanha, Maria Luiza Piassi, para falar mais algumas dicas e pontos de atenção sobre esse assunto:
Eu acrescentaria ainda o cuidado que precisamos tomar com as “babás eletrônicas” da modernidade, que são os celulares e televisão. Quando a criança assiste um desenho ali na tv ou na internet, o estímulo é unilateral, ou seja, não há um diálogo ou a possibilidade de participação da criança, ela é espectadora. Por isso, é preferível contar histórias, usar fantoches e bonequinhos e, muito importante, manter um diálogo com as crianças desde bem pequenininhas. Um dos erros dos pais é por muitas vezes limitar o diálogo com as crianças à perguntas e repetições como ‘quer água?’, então, sempre utilizando uma linguagem simples, converse sobre tudo com as crianças, mantenha um diálogo, desde bebês.
Outro ponto importante é reestabelecer o rito das refeições onde a família conversa, onde a criança vê os pais falando sobre a comida e sobre outros assuntos e é convidada a participar dessa conversa também. Nesse momento é primordial a restrição de distrações como televisão ou tela exatamente para estimular essa interação e diálogo entre a família.
Além disso, é importante prestar atenção se a criança respira pela boca e nos hábitos de uso de bicos como chupetas e mamadeiras, chupar dedo ou sugar a língua. As funções respiratórias e mastigatórias são extremamente importantes para o desenvolvimento da fala, então precisamos ficar de olho.
Maria Luiza Piassi – Fonoaudióloga.
Lá no meu Instagram @gibelarmino_ eu tenho compartilhado a evolução do Muri e os exercícios que temos feito para estimular a fala. Se você ainda não segue, aproveita para ficar por dentro dessas e outras dicas!
Importante reforçar que as dicas não substituem a avaliação de uma equipe multidisciplinar envolvendo otorrino, fonoaudióloga, nutricionista, pediatra e outros profissionais que avaliam limitações e atitudes que podem atrapalhar a fala.
De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!
Referências
Feldman HM. How Young Children Learn Language and Speech. Pediatr Rev. 2019;40(8):398-411. doi:10.1542/pir.2017-0325
Hustad KC, Mahr T, Natzke PEM, Rathouz PJ. Development of Speech Intelligibility Between 30 and 47 Months in Typically Developing Children: A Cross-Sectional Study of Growth. J Speech Lang Hear Res. 2020;63(6):1675-1687. doi:10.1044/2020_JSLHR-20-00008
NASCIMENTO, Fernanda Mara do; RODRIGUES, Marina Brandão e PINHEIRO, Ângela Maria Vieira. Programa de orientação: como estimular a linguagem das crianças nascidas pré-termo. Psicol. teor. prat. [online]. 2013, vol.15, n.2, pp. 155-165.