Você fica grávida e uma das primeiras coisas que te perguntam é “mas e agora, o que vai fazer com o cachorro (ou gato)?”. Infelizmente ainda é comum as pessoas acharem que crianças e animais de estimação não combinam, mas isso não é verdade! Cães e gatos são ótimas companhias para as crianças, mas a chegada de um bebê ou o convívio entre pets e crianças pequenas requer sim alguns cuidados.
Antes de começar preciso fazer uma afirmação importante: os animais de estimação não são presente! Então se você está pensando em ter um animal de estimação para dar de presente para seu filho porque a criança pede muito, pare, leia esse artigo até o final e pense muito bem. Crianças não são responsáveis nem financeiramente nem emocional e psicologicamente. Se você tem criança e quer ter um cachorro saiba que ele será seu (e também do seu filho), mas entenda que os adultos da casa é que precisarão assumir a responsabilidade, combinado?!
Crianças e animais de estimação: quais os riscos e benefícios?
Uma das preocupações mais comuns quando se pensa no convívio entre bebês, crianças e animais de estimação é o desenvolvimento de alergia. No entanto, os estudos recentes demonstram exatamente o contrário: quem convive com pets desde pequeno tem menos chance de apresentar alergias respiratórias.
Um estudo publicado pela American Medical Association mostrou que bebês que convivem com pets em casa têm risco 13% menor de desenvolver asma e os que vivem em fazendas ou em contato com muitos bichos, até 50% menos.
Diversos estudos recentes ao redor do mundo revelam que a convivência entre crianças e animais de estimação fortalece o sistema imunológico, diminuindo a sensibilidade a pelos, pólen e poeira e, assim, reduzindo a quantidade de antibiótico receitado para as crianças.
Além dos benefícios à saúde física, a convivência entre crianças e animais fortalecem o desenvolvimento sensorial. social e afetivo dos pequenos.
Vantagens emocionais e sociais para a criança
As crianças ficam mais sociáveis, aprendem noções de responsabilidade, companheirismo e cuidado mais cedo, demonstram melhor sua afetividade e ficam menos ansiosas. Os benefícios da amizade entre crianças e animais de estimação também foram notados em casos de crianças autistas.
Quando devo me preocupar com animais de estimação e crianças?
Bom, se você ainda não tem um animalzinho e tem filhos que já têm histórico de alergia a pêlos de animais, é legal conversar com o pediatra sobre a possibilidade de adotar um cão ou gato e como seria a conduta para minimizar as crises de alergia e manter a saúde das suas crianças em dia.
Agora, se você já tem um animalzinho, fique atento caso seu pet for muito ciumento ou não muito social. Entretanto, mesmo que você tenha o animal mais dócil do mundo é bom ficar bem atento aos momentos juntos e nunca deixar bebês e animais sozinhos brincando. Mesmo os mais dóceis podem machucar a criança em uma brincadeira ou reagir a um beliscão ou puxão de rabo.
O que fazer para evitar riscos?
O animal deve estar com vacinação e vermífugo em dia, bem como protegido contra pulgas e carrapatos. Evite que ele se deite na cama ou berço do seu filho (principalmente enquanto o bebê for novinho e ainda não tiver tomado todas as vacinas) e mantenha ração e água fora do alcance do bebê – mas se um dia você pegar seu filho comendo ração, não entre em desespero: acontece nas melhores famílias (quem me segue no Instagram sabe bem das peripécias do Murilo com a ração da Preta e da Olívia). Explique que não pode e retire do local.
A área em que o pet faz suas necessidades não deve ser acessada por seu filho enquanto ele for bebê. E os pelos no chão precisam ser aspirados diariamente, de preferência.
Qual a melhor idade para ter um pet?
Depende. Crescer com um pet desde quando se está na barriga já se comprovou benéfico para o sistema imunológico. É importante, no entanto, contar que o animal exige atenção, cuidados e tempo para brincadeiras e passeios (se for um cão). Quando a criança tem cerca de 1 ano de idade, ela interage melhor com o bicho e a família também já conseguiu estabelecer uma rotina.
Mas, se a sua rotina ainda está bagunçada por causa do bebê, talvez não seja uma boa ideia acrescentar outro elemento novo à sua vida neste momento. Vocês terão tempo para passear com o cachorro, por exemplo? Filhotes dão bastante trabalho, comem e destroem coisas e você precisa de tempo para ensiná-lo o que pode e o que não pode. Nas primeiras semanas do puerpério, por exemplo, quando quase ninguém consegue sair de casa, isso será uma dificuldade e o melhor é esperar um pouco.
Se a ideia é a socialização e o desenvolvimento de responsabilidades das crianças, a partir de 3 anos elas estão mais aptas a entenderem regras e a assumirem cuidados. Hoje o Gustavo e o Murilo participam das responsabilidades com a Olívia, Gustavo coloca comida, ajuda a limpar o xixi e brinca com ela, e o Muri também ajuda a colocar comida e gasta energia nas brincadeiras.
Agora um ponto também muito muito importante para considerar é a disponibilidade financeira, porque os animais de estimação também demandam gastos. Os mais básicos incluem alimentação, vacinação, vermífugos e antipulgas, além de consultas com veterinários e a possibilidade de gastos eventuais não programados caso seu animalzinho fique doente. Levante esses custos e a sua disponibilidade financeira para arcar com eles antes de introduzir um animal na sua casa.
E para quem já tem um animal, o que fazer com a chegada do bebê?
Cães e gatos podem ficar bem protetores desde a sua gestação. Há alguns que ficam mais bravos quando outras pessoas se aproximam da grávida ou do bebê, mas há também aqueles que vão sentir ciúmes e precisarão entender que não perderam espaço na casa e em seu coração. Acostume seu bichinho com os itens do bebê deixe ele cheirar o enxoval, entrar no quartinho para conhecer, se aproximar da sua barriga, enfim, participar desse momento de espera.
Quando o bebê nascer, leve para o pet uma fraldinha ou roupinha com o cheiro da criança. E, ao chegar em casa, o ideal é que alguém entre primeiro e agrade o animal, para depois quem estiver com o recém-nascido entrar. Sem neuras: pode deixar ele se aproximar e cheirar à vontade, mas de preferência na parte dos pés (evite a área da cabeça) é raro, mas pode ser que, querendo brincar ou “cuidar”, o cão machuque seu filho. Em pouco tempo ele vai saciar a curiosidade.
Nos primeiros meses, a atenção e o tempo da mãe vai estar muito voltada aos cuidados com o recém-nascido. O animal certamente sentirá sua falta, portanto, é interessante reservar um momento para ficar a sós com o animal se for um cão, vai adorar dar uma voltinha no quarteirão e, assim, você também respira um pouco.
Bom, eu sou super a favor de estimular essa convivência entre crianças e animais de estimação. Quando o Gustavo nasceu eu já tinha a Preta, que foi muito importante na minha vida em um momento delicado, e eles tiveram uma conexão surreal. Depois que o Murilo nasceu, mesmo já mais velhinha, a Preta e ele eram inseparáveis.
Quando a Preta se foi, os dois sentiram muito. Mesmo o Muri sendo pequeno (2 anos) ele sentia falta e perguntava sempre dela. Gustavo já mais velho me pedia um novo cachorrinho em toda a oportunidade que ele tinha. Estávamos no auge da pandemia, super isolados em casa, com home office, crianças em aula online, pensar na demanda de um filhote em casa estava simplesmente fora de cogitação. Foi importante para nós e para eles vivermos o luto e quando nos sentimos prontos, adotamos a Olívia! Como eu falei, eles participam das responsabilidades e ela também está super feliz desde que chegou em casa, só alegria!
Ficou ainda alguma dúvida sobre o convívio entre crianças e animais de estimação? Coloca aqui nos comentários!
De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!
Referências
Ownby DR, Johnson CC, Peterson EL. Exposure to Dogs and Cats in the First Year of Life and Risk of Allergic Sensitization at 6 to 7 Years of Age. JAMA. 2002;288(8):963–972.
Fall T, Lundholm C, Örtqvist AK, et al. Early Exposure to Dogs and Farm Animals and the Risk of Childhood Asthma. JAMA Pediatr. 2015;169(11):e153219.
National Committee on Injury Prevention. Consensus: children and pets. Consenso: niños y mascotas. Arch Argent Pediatr. 2020;118(3):S69-S106.
Christian H, Mitrou F, Cunneen R, Zubrick SR. Pets Are Associated with Fewer Peer Problems and Emotional Symptoms, and Better Prosocial Behavior: Findings from the Longitudinal Study of Australian Children. J Pediatr. 2020;220:200-206.e2.