Nem todas as mães podem amamentar seus filhos por questão de saúde; saiba o que fazer
O aleitamento materno é amplamente reconhecido como a melhor forma de nutrição para os bebês, oferecendo inúmeros benefícios para a saúde tanto da criança quanto da mãe. No entanto, embora seja uma prática altamente recomendada, existem algumas contraindicações que devem ser consideradas.
É importante ressaltar que essas contraindicações para o aleitamento materno são específicas e que, na maioria dos casos, as mulheres podem amamentar com segurança. Conhecer essas contraindicações específicas é fundamental para evitar o risco de interromper o aleitamento materno de forma desnecessária. Por isso, hoje vou explicar quais são essas contraindicações e como proceder nesses casos:.
Por que o aleitamento materno é importante?
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a amamentação deve ser considerada a forma exclusiva para os bebês se nutrirem até os seis meses de vida. E ela é recomendada, pelo menos, até os dois anos, juntamente à introdução alimentar sólida.
O leite materno é uma fonte completa de nutrientes e vitaminas que o bebê necessita para crescer de maneira saudável e se desenvolver com o passar do tempo. Mas, além disso, o aleitamento materno permite uma recuperação natural do período pós-parto, previne inúmeras doenças tanto na mãe quanto na criança, cria um vínculo forte entre ambos e ajuda a economizar nas finanças.
Aqui no De Mãe em Mãe, você pode conferir um post explicando mais a respeito dos benefícios da amamentação para as mamães e por que ela deve ser incentivada desde cedo.
Quais são as contraindicações para o aleitamento materno?
Apesar de todos os benefícios citados acima, nem sempre a mãe pode amamentar o bebê, pois existem alguns fatores impeditivos que podem causar risco à saúde tanto da mulher quanto do pequeno.
Por isso, separei as principais condições que requerem atenção a seguir, para você ficar de olho caso se enquadre em um dos itens:
Contraindicações permanentes para o aleitamento ou extração do leite materno
Existem casos em que não tem, de jeito algum, a possibilidade de a mãe amamentar o filho, devido às seguintes condições e uso de substâncias:
Bebês com galactosemia ou intolerância à lactose congênita
A galactosemia e a intolerância à lactose congênita são condições genéticas raras, que fazem com que o bebê não tenha enzimas suficientes que possam metabolizar o açúcar presente no leite materno. Ao ser amamentado, o bebê pode apresentar desde sintomas gastrointestinais como enjoo, vômito e diarreia até situações mais agravadas como atraso no desenvolvimento cognitivo. Este é um dos diagnósticos realizados através do teste do pezinho ampliado, que até pouco tempo era possível de ser realizado somente de maneira particular, mas desde 2021 passou a ser incorporado pelo SUS.
Mães que vivem com HIV
Os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas para HIV recomendam que mulheres que vivam com HIV não amamentem, já que esses vírus podem ser transmitidos ao bebê pelo leite materno. Essa recomendação vale também para mulheres que estejam em tratamento e tenham atingido a carga viral indetectável. Isso porque, até o momento, não existem evidências suficientes para fazer recomendações claras sobre a frequência necessária de monitoramento clínico e virológico para mãe e bebê em uma relação de amamentação ou para a ação a ser tomada em caso de rebote viral. Além disso, alguns estudos recentes demonstram que, mesmo que a carga viral seja baixa, há possibilidade de transmissão do vírus durante a amamentação.
Mães com HTLV e ebola
Há vírus como o linfotrópico humano de células T (HTLV) e o ebola que comprometem a saúde de mães que querem amamentar, impedindo que elas façam isso sob risco de infectar os próprios filhos.
Mães usuárias de drogas ilícitas
O uso de drogas como opioides, PCP, cocaína, entre outras substâncias ilícitas, pode comprometer a saúde tanto da mãe quanto do bebê. Essas substâncias, assim como o álcool, ficam presentes no leite materno e podem causar dependência química no bebê, com efeitos colaterais sérios. Por isso, o aleitamento é contraindicado em mães que são usuários desses entorpecentes.
Contraindicações temporárias para o aleitamento ou extração do leite materno
Já nesses casos, as mães precisam interromper por um tempo a amamentação, e após um período de recuperação ou de cessar o consumo de determinadas substâncias, podem voltar ao aleitamento convencional:
Mães com brucelose, herpes ou varíola do macaco
Nesses casos, o diagnóstico de brucelose não tratada, do vírus herpes simplex na região das mamas e da varíola do macaco precisa ser feito para evitar o contágio do bebê. Todas elas podem ser tratadas, e uma vez que as mães estejam curadas, podem voltar ao aleitamento materno.
Mães que tomam determinados tipos de medicamentos
Anualmente, as sociedades médicas atualizam uma lista com medicamentos que podem apresentar riscos à saúde dos bebês e que acabam sendo repassados por meio do leite materno. Cada caso pode variar e requer aconselhamento médico, mas na lista, é possível citar alguns ansiolíticos, antidepressivos, remédios para diminuir vícios ou abstinências em álcool, ou tabaco, alguns fitoterápicos e relaxantes musculares.
Mães com catapora ou tuberculose
Já para essas duas condições, elas podem ser tratadas em até duas semanas adequadamente, por meio de repouso e medicação indicada por um profissional de saúde. O aleitamento deve ser interrompido até a recuperação ser completa.
Como garantir a continuidade da amamentação durante o tratamento dessas condições?
Sabemos que o estímulo de sucção do bebê é essencial para o sucesso da amamentação. Dessa forma, interromper o aleitamento por um período, mesmo que curto, pode impactar na produção de leite materno e dificultar a continuidade da amamentação.
Por isso, se você precisar interromper temporariamente sua amamentação por um período, uma dica para evitar essa redução na produção, é continuar extraindo seu leite nos horários que o bebê mamaria. Esse leite extraído deve ser descartado, mas vai ajudar que seu corpo continue a produção.
E, ao alimentar seu filho, seja com fórmula ou com leite materno doado de um banco de leite, evite usar mamadeiras, tente oferecer o leite em um copinho ou colherzinha, para não haver confusão de bicos no retorno da amamentação.
Eu sei que, na prática, pode ser complicado ordenhar leite em todas as mamadas, ainda mais se você estiver doente e em tratamento. Mas pense que é temporário e logo tudo voltará ao normal!
E o que não é impeditivo para amamentar?
Assim como existem as contraindicações para o aleitamento materno, há situações que não interferem na prática, e incluem mães que:
· Foram infectadas com o vírus da hepatite C;
· Que estão em estado febril (exceto caso seja decorrente de um dos itens anteriormente citados);
· Que foram expostas a reagentes químicos de baixo nível;
· Fumantes (apesar de deverem ser encorajadas a parar);
· Que bebem ocasionalmente;
· Com bebês que apresentam icterícia.
E como alimentar os bebês em casos de contraindicação?
As mulheres com alguma dificuldade ou contraindicação para o aleitamento, devem procurar um banco de leite humano. Neles, o leite doado por outras mães passa por triagem e tratamento – o que o livra de qualquer possibilidade de transmissão de doenças ou infecções.
Outra alternativa é a utilização de fórmulas lácteas como substituição ao leite materno. Os bebês cujas mães vivem com HIV têm direto à fórmula láctea distribuída gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Em caso de dúvida, basta procurar um profissional ou serviço de saúde e informar-se.
Para casos em que a criança foi diagnosticada com galactosemia, o leite humano ou leite de vaca não são recomendados, devendo ser feita alimentação com fórmulas à base de soja ou outro derivado vegetal, que não cause alergia no pequeno. O pediatra poderá indicar as melhores alternativas para o seu caso.
E aí, ficou com mais alguma dúvida sobre contraindicação para o aleitamento materno? No meu Instagram @gibelarmino_ você confere mais dicas sobre esse tema!
De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!
Referências bibliográficas:
Contraindications to Breastfeeding or Feeding Expressed Breast Milk to Infants. CDC, 2023.
Breastfeeding Overview. American Academy of Pediatrics, 2021.
Hari C. et al. The Transfer of Drugs and Therapeutics Into Human Breast Milk: An Update on Selected Topics. Pediatrics, 2013.
Waitt C, Low N, Van de Perre P, Lyons F, Loutfy M, Aebi-Popp K. Does U=U for breastfeeding mothers and infants? Breastfeeding by mothers on effective treatment for HIV infection in high-income settings. Lancet HIV. 2018;5(9):e531-e536.