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Bebê gordinho não é sinal de saúde: saiba quando você deve se preocupar

bebê gordinho

Antigamente o bebê gordinho era considerado bonito e saudável. Isso pode ser explicado pelo fato do país viver uma situação em que a magreza e desnutrição eram uma realidade prevalente por aqui. Nesse sentido, um bebê gordinho era sinal de que estava bem nutrido, bem alimentado. E, afinal, quem não quer um bebê saudável, não é? 

Acontece que com o passar dos anos o Brasil foi passando por uma transição demográfica e a prevalência de desnutrição por carência nutricional diminuiu drasticamente, ao mesmo passo em que vimos a prevalência de sobrepeso e obesidade aumentar. Essa transição também veio acompanhada nos avanços dos estudos de saúde e nutrição, que apontaram uma preocupação: a obesidade infantil.  Dados do Ministério da Saúde apontam que aproximadamente 6,4 milhões de crianças tenham excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já evoluíram para obesidade. 

Ainda hoje é muito comum percebermos elogios à bebês gordinhos. “Nossa, mas que bebê fofo!” ou “Olha só, que delícia de perna rechonchuda!” são frases bem comuns. Fato é que pode ser difícil perceber o excesso de peso em crianças, principalmente em bebês com menos de 1 ano. 

Por isso, no post de hoje vou explicar tudo sobre como acompanhar o crescimento do seu bebê e quando você deve se preocupar com o peso dele.

O peso do bebê

O acompanhamento do crescimento e da nutrição do bebê é um dos pontos mais importantes do acompanhamento de rotina com o pediatra no início da vida. Em cada consulta, serão avaliados o peso e a estatura, sendo que o acompanhamento continuado (todos os meses, ou em outra frequência que seja necessária) é muito importante porque um valor isolado desses parâmetros não vai ser capaz de dizer muita coisa.

Dependendo da fase da vida existe um parâmetro ideal para avaliar o ganho de peso da criança. 

Assim que o bebê nasce, é necessário um controle de peso mais próximo e regular, sendo interessante, em muitos casos, que se verifique o peso do bebê pelo menos duas vezes no primeiro mês de vida. Isso porque é comum haver perda de peso nos primeiros dias após o nascimento, que é perfeitamente normal. 

A partir daí, é necessário observar como acontecerá o ganho desse peso perdido, sendo que geralmente o peso do nascimento é atingido novamente com 15 dias de vida. Nesse momento, o que mais vai contar, então, é o quanto o bebê vai ganhar de gramas por dia e se atingirá o peso do nascimento nesse período.

A partir do 1º mês, de maneira geral, o controle do peso se dará mensalmente. Nos primeiros 3 meses, especialmente, considera-se o parâmetro de quantos gramas o bebê ganhou por dia. A média ideal de ganho de peso varia de 25 a 40g por dia, o que dará aproximadamente 750 a 1200g de ganho de peso por mês.

Depois, o ganho de peso vai reduzindo progressivamente em números absolutos, sendo que no 4º trimestre (9 a 12 meses de vida), não passa de 10g por dia, o que dará em torno de 300g no mês. 

Abro um parêntese aqui para explicar que esses números são médias e vale muito o contexto individual de cada criança e família. O objetivo desse texto é te dar a informação para que você tenha empoderamento e conhecimento para acompanhar e questionar se achar necessário. O crescimento e ganho de peso do seu filho deve ser acompanhado e discutido SEMPRE com o pediatra.

Além desse parâmetro de acompanhamento de ganho de peso por dia/mês, as curvas de crescimento são ferramentas mundialmente utilizadas para acompanhar o desenvolvimento do bebê. 

Mas o que são as  curvas de crescimento?

Curvas de crescimento são gráficos de referência para monitorar os aspectos de nutrição e crescimento na infância e adolescência. Tem como referência principal para elaboração a Organização Mundial de Saúde, e, a partir de estudos populacionais, identificam a média esperada de peso, altura, constituição corporal nas diferentes faixas etárias. Não existe um único parâmetro correto que o bebê precisa seguir, o importante é que nas consultas será identificado o ponto dessas curvas em que ele se encontra e o esperado do crescimento.

Cada bebê terá uma curva própria de crescimento, o que chamamos de “canal de crescimento”, dependendo inicialmente de sua estrutura genética e fatores ambientais, como a alimentação e o sono.

Bebê gordinho não é sinal de saúde!

É comum haver uma ansiedade em relação à expectativa de que o bebê cresça rápido e bastante, que tenha um ganho de peso alto – Aqui que mora o perigo! Isso não é sinônimo de saúde!

Claro que esperamos um mínimo de crescimento, mas também existe um ponto máximo, além do qual fica excessivo e pode apresentar alguns riscos.

O excesso de peso está relacionado ao aumento de doenças cardiovasculares, como hipertensão, diabetes, aumento de colesterol, que podem levar a infarto, derrame, angina, insuficiência vascular, entre outros.

Estudos atuais apontam que o ganho excessivo de peso nos primeiros anos de vida já pode estar relacionado a essas condições na vida atual, pois já é gerada uma programação metabólica que predispõe as crianças a essas condições.

E na prática, como identificar se meu bebê está com excesso de peso e o que fazer para evitar?

O crescimento do seu bebê deve ser acompanhado nas curvas de crescimento no consultório do pediatra, levando em conta suas características individuais. Não precisa ficar totalmente “preso na curva”, mas é uma referência importante para seguir.

É importante pontuar que, mais do que o fator genético, o fator ambiental é essencial nesse processo. Chamamos de fator ambiental tudo aquilo que vem de fora para dentro do corpo e impacta na nossa saúde. Nesse caso, o fator ambiental é a oferta dos alimentos.

Nos primeiros 6 meses de vida, a melhor alimentação que o bebê pode receber é o leite materno. Não é comum situações de excesso de peso nesse caso, mas não é impossível. O leite materno é extremamente nutritivo. Muita gente confunde o real significado da amamentação livre demanda, e acaba deixando o bebê “pendurado no peito” sempre que chora. Nesse caso, pode haver uma ingestão de calorias muito além do que o seu bebê precisa e, por consequência, o ganho de peso em excesso.

10 dicas para ter sucesso na amamentação

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Quando não é possível a amamentação exclusiva ao seio, o substituto ideal é a fórmula infantil adequada para a faixa etária. Bebês que mamam fórmula podem muitas vezes ter um ganho de peso maior do que o bebê que mama leite materno, então é importante seguir as orientações do pediatra com relação à quantidade e estabelecer uma rotina ideal de alimentação para evitar que o bebê mame mais do que precisa.

A partir dos 6 meses inicia-se a introdução alimentar e é nesse momento em que o cuidado maior deve ser tomado! Dificilmente ocorrerá uma situação de obesidade se esse processo seguir de maneira saudável.

Aqui no De Mãe em Mãe temos diversos conteúdos com tudo o que você precisa saber para uma introdução alimentar saudável. Então, para o texto não ficar muito longo, não vou me estender nesse assunto e deixo alguns links abaixo.

Quando iniciar a introdução de alimentos

Como montar o prato de refeição do bebê

Introdução alimentar dos 6 aos 12 meses: passo a passo

5 alimentos proibidos para crianças menores de 2 anos

Ebook de receitas para introdução alimentar

Recomendo fortemente que você confira todos os conteúdos acima porque a introdução alimentar tranquila e adequada, garante todos os nutrientes para que seu filho cresça e se desenvolva sem risco de excesso de peso ou desnutrição. Além disso, essa é a fase em que acontece a formação do paladar e do relacionamento com a comida. Portanto, os hábitos adquiridos nesse momento serão levados para o resto da vida. É muito mais difícil readequar depois, do que começar certo.

Caso o pediatra identifique que a criança está com ganho de peso muito acima do recomendado, não se desespere.

As orientações são as mesmas. Não falamos em “dieta de emagrecimento” para crianças. Isso porque a criança irá crescer em estatura e a tendência é atingir o equilíbrio. Nesse texto aqui eu explico passo a passo o que fazer caso seu filho esteja acima do peso. 

O que é importante é focar em rotina e alimentação saudável desde o início da vida! Lembrando que a criança é um reflexo da família. Tudo aquilo que a família come ou deixa de comer, faz ou deixa de fazer, será absorvido por essa criança!

De mãe em mãe, construiremos um novo maternar!

Referências

Bier DM. Growth in the first two years of life. Nestle Nutr Workshop Ser Pediatr Program. 2008;61:135-144. doi:10.1159/000113364

Toftlund LH, Halken S, Agertoft L, Zachariassen G. Catch-Up Growth, Rapid Weight Growth, and Continuous Growth from Birth to 6 Years of Age in Very-Preterm-Born Children. Neonatology. 2018;114(4):285-293. doi:10.1159/000489675

Sociedade Brasileira de Pediatria. Quando suspeitar que a obesidade não é comum: orientações para o pediatra. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22736c-DC-Qdo_suspeit_q_obesidade_nao_e_comum.pdf. Acessado em novembro de 2021. 

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos familiares 2008-2009: antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2010.

World Health Organization. Child growth standards: Length/height-for-age, weightfor-age,weight-for-length, weight-for-height and body mass index-for-age. Methods and development. Geneva, Switzerland: WHO, 2006 e 2007. Disponível em: https://www.who.int/childgrowth/standards/en/ e https://www.who.int/childgrowth/en/. Acessado em novembro de 2021.

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